A travesti Riany Rodrigues Sabara, de 20 anos, que trabalha como agente de prevenção afirma que foi proibida de usar o banheiro feminino do Clube do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba (SP), na madrugada de domingo (25), durante baile que acontecia no local. Um boletim de ocorrência foi registrado e a travesti disse ter sido agredida fisicamente e verbalmente pelos seguranças do local. Ela afirmou ainda que foi expulsa do estabelecimento com a mãe e por isso procurou a polícia. O sindicato negou que tenham ocorrido agressões e discriminação.
De acordo com a agente de prevenção, a confusão começou quando ela usou o banheiro feminino. ?Eu usei o banheiro como todas as mulheres que estavam no local, mas quando saía fui abordada por um segurança que disse que eu não poderia usar o feminino e que teria de usar o masculino", afirmou.
Ela também disse que, para evitar problemas, foi ao banheiro masculino e quando ainda estava sentada no vaso sanitário uma pessoa do clube chutou a porta, que atingiu o nariz da travesti. Ela afirmou ainda que foi obrigada a se retirar do local.
?Eu fiquei assustada. Ele me obrigou a sair, me ofendeu e eu fiquei muito constrangida. Quando deixei o banheiro, outros seguranças estavam do lado de fora me esperando e também me humilharam. Um deles inclusive pegou a minha mãe pelo pescoço porque ela foi me ajudar. Foi uma cena horrível. Eu tentei chamar a polícia e eles me ameaçaram, disseram que não ia dar em nada?, disse Riany.
A travesti ainda disse que ela e a mãe foram puxadas pelos braços para fora da festa após a discussão. A agente de prevenção fez exame de corpo de delito devido à pancada que afirma ter recebido no nariz.
Versão do clube
O Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba afirmou na tarde desta quinta-feira (29) que as acusações da travesti não procedem. "Em nenhum momento falamos que ela era homem. Foram os frequentadores do clube que chamaram os seguranças", disse Hugo Liva Júnior, tesoureiro do sindicato. Ele afirmou ainda que a travesti fazia xixi em pé e com a porta aberta no banheiro feminino quando foi abordada pelos seguranças.
Liva Júnior negou também que tenha ocorrido agressão. Segundo ele, depois da saída da travesti do banheiro feminino, foram oferecidos outros dois banheiros (um de uso da banda que se apresentava na festa e outro que fica no ambulatório do clube), mas ela se recusou a usá-los. "Nesse momento ela foi até o banheiro masculino e começou a se debater sozinha na porta", afirmou o tesoureiro. Ele disse que outras pessoas que estavam no local chamaram os seguranças, pois acharam que havia mais uma pessoa dentro do box.
O sindicalista ainda negou que a travesti estivesse acompanhada da mãe, mas na companhia de uma moça jovem. "Não há discriminação no clube. Inclusive, temos associados transexuais que usam outros banheiros, mas que podem usar o masculino e feminino, desde que não o façam de porta aberta. Existe uma conduta estabelecida pelo nosso estatuto e que deve ser mantida."
Casvi
De acordo com o presidente do Centro de Apoio e Solidariedade à Vida (Casvi), Anselmo Figueiredo, esta não foi a primeira vez que uma travesti passou por constrangimento no clube dos metalúrgicos.
?Apesar de não haver uma lei específica para esses casos, agressão e discriminação são crimes e as pessoas precisam pagar por isso?, afirmou. Ele disse ainda que o Casvi possui um sistema de denúncia que está aberto ao público e funciona todas as sextas-feiras, das 14h às 20h, na sede da entidade, na Rua Bernardino de Campos, 401, Centro.