Para não terem prejuízos, traficantes que atuam nas unidades prisionais do Piauí inventaram uma nova técnica para garantir o recebimento das dívidas contraídas por presos viciado em drogas: o sequestro.
Segundo informações de agentes penitenciários, presos com dívidas com traficantes são mantidos em cárcere, dentro de banheiros, até que a família efetue o valor do resgate em depósito em conta corrente. Os contatos são feitos por meio de telefones celulares que entram nas unidades prisionais de forma irregular e fora da vista dos agentes.
Os casos mais recentes ocorreram na Penitenciária Major César de Oliveira, que tem regimes fechados e semiaberto. Lá, pelo menos dois sequestros de presos foram registrados, segundo informações do Sinpoljuspi (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí).
Agentes relataram que descobriram que presos sequestrados ficaram em cativeiro até que a família depositasse o valor do resgate para ele ser "liberado" e não ficar "jurado de morte" pelos líderes do tráfico de drogas.
"O presídio é grande e temos o problema de serem misturados presos de regime fechado e semiaberto. Devido ao número de presos no semiaberto, não temos o controle de quem está "faltando" na hora que fazemos a contagem. Também não tem como saber se a cela que o preso se encontra é a que está na ficha ou se ele foi colocado por outros internos. É assim que ocorrem os sequestros", contou o vice-presidente do Sinpoljuspi, Wellington Rodrigues.
Segundo Rodrigues, o preso João dos Santos Borges Júnior, 25, assassinado em 11 dezembro de 2012, foi morto devido uma desavença por estar envolvido em um dos grupos que faz o tráfico de drogas e sequestra internos.
"As informações investigativas repassadas por agentes são de que o interno estava participando de sequestros de outros presos por conta de dívidas de tráfico de drogas e teria discutido com o grupo. Imagine a falta de segurança com que os agentes trabalham e também para as famílias, pois se os presos fazem sequestros dentro das unidades prisionais podem cometer outros crimes ordenados fora do presídio", disse Rodrigues.
"A morte desse preso é emblemática por dois motivos: o primeiro é que ele foi morto porque participava de uma das facções criminosas que existem na Major César. E a outra é que ele não foi assassinado a golpes de espeto, mas sim a facadas. A arma utilizada foi pega na própria cozinha onde a vítima trabalhava", contou um agente penitenciário da Major César que pediu para não ser identificado.
Segundo o agente, o clima nos presídios é tenso. "Vivemos tentando fazer a segurança da sociedade ao custodiar presos de alta periculosidade, mas também ficamos desassistidos. À medida que estamos fazendo nosso trabalho de acordo com a lei sofremos ameaças dos internos. O perigo é maior quando estamos foram do trabalho", relatou.
Resposta
A Secretaria da Justiça e de Direitos Humanos (Sejus) negou a existência de sequestros dentro das unidades prisionais do Piauí, mas ressaltou que ocorrem "brigas e desentendimentos" entre os internos que podem resultar em "situações mais graves".
"Não existe sequestro dentro das unidades penais do Piauí, porque diariamente os detentos têm direito a banho de sol, ou seja, todos tem acesso ao pátio dentro dos pavilhões, ficando livre o trânsito entre o pátio interno e suas próprias celas, sob vigilância da guarda militar."
Segundo a secretaria, o principal motivo de rixas entre os presos são as drogas, mas os responsáveis pela segurança dos presídios tentam minimizar o problema separando os internos dos pavilhões que possuem rivais para evitar ameaças.
"Antes de entrarem nos presídios, todos os detentos são entrevistados e é feita uma triagem, sendo direcionados para os pavilhões de acordo com crimes e/ou periculosidade do preso. Em cada unidade, há o pavilhão conhecido como "seguro", onde são alojados os presos ameaçados de morte e que já vêm com rixas externas."
A Sejus informou ainda que vai capacitar, nos próximos meses, as vistoriadoras das unidades penais para minimizar a entrada de entorpecentes.
"Há um controle rigoroso na entrada dos visitantes nas unidades penais, onde todos são despidos e seus pertences são criteriosamente vistoriados. Possuímos pórticos e detectores de metais nas entradas dos presídios, a qual todos os visitantes são obrigados a passar por eles. Porém, infelizmente, alguns familiares já foram flagrados levando drogas ou aparelhos celulares dentro das partes intimas, o que dificulta a coibição destes ilícitos, pois nossa legislação não permite que façamos vistoria nas partes intimas."