Traficante usa “tias” para barrar ação da PM na Bahia

Durante ações da Polícia Militar em áreas de influência dos traficantes, mães se mantêm próximas dos policiais como forma de atrapalhar

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Para tentar desqualificar e atrapalhar ações policiais de combate ao tráfico de drogas na periferia de Salvador, traficantes passaram a utilizar jovens e mães de família, chamadas tradicionalmente na Bahia de "tias", como manifestantes e testemunhas "profissionais" em investigações da polícia.

Durante ações da Polícia Militar em áreas de influência dos traficantes, mães se mantêm próximas dos policiais como forma de atrapalhar e tumultuar a abordagem a suspeitos, diz o Ministério Público. Ataques contra PMs na semana passada expuseram a força do tráfico. Até sexta, nove postos da PM foram atacados, 16 ônibus, incendiados, e três policiais ficaram feridos.

Dez suspeitos foram mortos. Segundo a promotora Isabel Adelaide, coordenadora do Gacep (grupo de controle da polícia), testemunhos forjados também fazem parte de novo leque de ações de criminosos para atrapalhar a polícia. Ela relata o caso de um jovem de 16 anos, assassinado em 2008 na comunidade Pela Porco, na periferia da capital baiana.

O crime gerou revolta entre moradores do local, que chegaram a atear fogo em um ônibus. De acordo com o depoimento de uma testemunha, o garoto foi morto a tiros por PMs durante uma ação no local. "O exame cadavérico do menino revelou que nem de tiro ele morreu, mas por causa de um instrumento cortante", diz. Efeito midiático Para a pesquisadora Tania Cordeiro, do Fórum Comunitário de Combate à Violência da Bahia, criminosos promovem protestos em horários em que podem ser exibidos nos telejornais e adotaram a prática de queimar ônibus inspirados no PCC, que atua em São Paulo.

"O tráfico necessita mostrar o seu poder para a polícia, mas com novas formas de reação, não apenas baseada em confrontos armados", disse. É necessário levar em conta também os excessos em operações policiais, diz a promotora. Segundo levantamento obtido pela Folha, nos últimos quatro anos foram denunciados mais de 70 policiais, sob suspeita de homicídio. Todos argumentaram que houve "troca de tiros". "Não é que a polícia aja sempre certo. Há os excessos, obviamente. O problema é que, atualmente, as corregedorias não investigam, o que dificulta muito dar uma punição a policiais violentos", disse.

Questionado sobre violência nas ações, Nilton Mascarenhas, comandante da PM da Bahia, afirmou que a corporação não age com viés de execução. Segundo a Corregedoria da PM, o número de punições a policiais caiu 77% nos sete primeiros meses deste ano em relação a 2008 --de 290 para 65. Mas o número de processos disciplinares instaurados cresceu 57%, de 410 para 644. Para a promotora, as condenações a policiais esbarram nos júris populares.

 "A sociedade baiana, baseada no coronelismo, deixa de condenar uma pessoa se a vítima tiver um simples porte ilegal de arma. É como se as pessoas não julgassem o fato, mas a pessoa." A socióloga Ivone Freire Costa, que coordena um programa sobre segurança na Universidade Federal da Bahia, avalia que a "cumplicidade" entre chefes de família, traficantes e policiais corruptos influencia na alta da violência, o que pode levar a ataques.

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