Na tarde dessa terça-feira, ao subir as escadas do Fórum da Barra da Tijuca, o jogador Adriano, dispensado ontem do Flamengo, tinha a chance de deixar para trás o episódio no qual a jovem Adriene Cyrilo Pinto, de 21 anos, foi baleada na mão dentro de seu carro, em dezembro do ano passado. Pouco mais de 20 minutos depois, Adriano levava nas costas dois processos pelo caso: um criminal, por lesão corporal, e outro cível, pela dívida de mais de R$ 100 mil de Adriene com o atendimento hospitalar.
Após não aceitar fazer um acordo cível com a vítima, nem a possibilidade de transação penal, uma pena antecipada, o atleta vai enfrentar um processo judicial. O promotor do 9º Juizado Especial Criminal (Jecrim), Márcio Almeida Ribeiro da Silva, vai denunciar Adriano e o policial militar aposentado Julio Cesar Barros, que dirigia o carro e era dono da arma disparada, por lesão corporal culposa (sem intenção).
- Existem indícios de autoria e materialidade do delito suficientes para o oferecimento da denúncia - garantiu o promotor.
Além do processo criminal, Adriano ainda pode ser incluído como réu na ação que o Hospital Barra D"Or move contra Adriene, que até hoje não pagou as despesas com o atendimento recebido na unidade após ter sido atingida. A conta do hospital, que começou em R$ 82 mil, já está em R$ 110 mil.
Para o advogado do hospital, Fernando Charnaux, que acompanhou a audiência de ontem, não restam dúvidas de que o jogador foi quem levou Adriene para a unidade, e ainda se comprometeu a pagar suas despesas.
- Estamos estudando a possibilidade de incluir o Adriano como réu. Os dois seriam responsáveis pelo pagamento da dívida - explica Charnaux.
A audiência
Adriano chegou ao Fórum da Barra por volta das 13h15, em seu Merceds Benz branco. Acompanhado de seus advogados, ele subiu para a sala de audiência do 9º Jecrim, onde promotor e juiz só esperavam a sua chegada para dar início à sessão. Sério, acompanhou a audiência sem dar muitas palavras.
Adriene não foi à sessão. Justificou-se ao Ministério Público, alegando que deu a luz recentemente, e ainda está no período pós-operatório.
Primeiro, o juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto questionou o jogador e o policial aposentado, Julio Cesar, se havia interesse em fazer um acordo cível com a vítima, que envolveria o pagamento de ambos a uma indenização à Adriene. As duas defesas disseram que não. Em seguida, o promotor propôs a transação penal: Julio Cesar teria que pagar 30 salários-mínimos a Adriene (mais de R$ 18, 6 mil ) e Adriano 150 salários-mínimos (R$ 93,3 mil). Mais uma vez, a resposta foi negativa.
O processo agora está com o MP para o oferecimento da denúncia. Até que isso ocorra, Adriano ainda pode voltar atrás e fazer um acordo com Adriene.
Relembre o caso
Adriene Cyrilo foi atingida por um tiro na mão, em 24 de dezembro do ano passado, no carro de Adriano. Em setembro, a vítima, procurou o MP para modificar declarações dadas na delegacia, na época do acidente. Nas novas declarações, ela afirmou que a arma não estava em suas mãos no momento do disparo, e que foi pressionada, na delegacia, a dizer que estava. O promotor Márcio Almeida Ribeiro da Silva, do Jecrim, apontou falhas na perícia do carro do jogador, como a ausência da informação se o veículo era blindado ou não. Márcio critica ainda a reconstituição feita pela 16ª DP, que foi feita mesmo sem a presença de uma das mulheres que estavam no carro, e faz críticas à atuação do delegado. O promotor cobrou providências da Corregedoria e chefia da Polícia Civil.