Testemunha diz que cinegrafista foi vitima de um black bloc no RJ

Fotógrafo estava em protesto contra aumento de passagens e fez imagens. Polícia Civil esteve nesta sexta (7) no local onde o cinegrafista foi ferido.

Cinegrafista atingido por rojão | Reprodução/Internet
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O momento em que o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade foi ferido no protesto contra o aumento de passagens de ônibus, nesta quinta-feira (6), no Centro do Rio, foi testemunhado por um fotógrafo, que registrou o ataque em imagens. Essa testemunha não quis ser identificada e afirmou que o cinegrafista foi atingido pelo rojão que um black block disparou, como mostrou o Jornal Nacional.

Peritos da Polícia Civil estiveram nesta sexta (7) no local onde o cinegrafista foi ferido. O momento em que Santiago Idílio Andrade é atingido na cabeça foi registrado por uma sequência de fotos. Na primeira, ele aparece em pé, com a câmera no ombro. No centro do vídeo, no chão, há um artefato explosivo já aceso. No canto direito, há um homem correndo.

Na segunda foto, o artefato continua no chão, mas a chama parece maior. Logo depois, é possível ver um rastro de fogo com faíscas perto das costas do cinegrafista da TV Bandeirantes.

Na imagem seguinte, aparece a explosão sobre a cabeça de Santiago. Uma grande quantidade de fogo se espalha. Depois, ele aparece curvado, ainda com a câmera no ombro e muita fumaça em volta.

O Jornal Nacional conversou com o autor das fotos, que também deu entrevistas a outros veículos de imprensa. Com medo de represálias, por ter sofrido ameaças nas ruas durante os protestos, ele preferiu gravar sem mostrar o rosto e sem que o nome dele fosse divulgado. O fotógrafo diz não ter dúvidas: viu um integrante do grupo black bloc acender o artefato que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes.

Ele disse ainda que, com a garantia de que terá sua identidade preservada, reafirmará o testemunho às autoridades policiais. ?Ontem, quando nós chegamos à Central do Brasil, acompanhando o protesto, eu vi que a coisa começou a ficar muito tensa. Do lado de fora, eu observei que ao lado esquerdo da imagem ficavam os policiais, encostados no muro da Guarda Municipal. Do lado direito, ficavam os manifestantes, os black blocs, todo mundo junto, entendeu??, disse o fotógrafo.

Segundo o fotógrafo, o homem que aparece correndo, de costas, na primeira foto exibida, foi quem deixou na calçada o artefato explosivo já em combustão. Na imagem, ele está de calça jeans e camisa cinza.

?Nessa hora eu vi um homem com um lenço preto no rosto, calça jeans, com uma camisa cinza, arriado, tentando acender um artefato. Quando levantei a câmera pra fazer essa foto, o homem conseguiu acender esse artefato e saiu correndo. Logo em seguida, esse morteiro disparou e atingiu o nosso companheiro cinegrafista. Eu vi que, naquele momento, o homem, na verdade, posicionou o artefato em direção aos policiais. Mas, infelizmente, pegou no nosso companheiro?, completou o fotógrafo.

Perguntado pela equipe de reportagem se na direção onde estava o suposto mascarado havia policiais militares, o fotógrafo respondeu:

"Não tinha, volto a dizer: do lado esquerdo da imagem, estão os policiais. Do lado direito, os manifestantes, black blocs, e também manifestantes de uma maneira geral, e os manifestantes tacando pedra e os policiais também jogando bomba de gás, entendeu? E foi no exato momento em que eu vi esse homem, que estava com um lenço no rosto, arriado, acendendo esse morteiro. Logo em seguida, quando eu levantei a câmera pra fazer a foto ele conseguiu acender o morteiro e saiu correndo. Na verdade, naquele momento ele nem viu a tragédia que causou?.

O Jornal Nacional pediu ao perito Nelson Massini que analisasse as imagens. ?Eu acho que essa foto é bastante esclarecedora. Nós podemos perceber aqui no chão uma espécie de um tubete, onde é lançado um propulsor. Portanto, é um fogo de artifício. Aqui nesta foto a gente percebe ainda o propulsor, que fica evidente, quando ele se desloca?, opinou Massini.

"Não há artefato da polícia que promova esse tipo de explosão, soltando vários fragmentos incandescentes, isso visto à noite, já no entardecer já, fica com esse brilho?, complementa o perito.

A equipe também mostrou ao perito a imagem de outro artefato que explodiu durante o protesto de quinta-feira, dentro da estação de trem. ?É o mesmo artefato. São fogos, é um rojão, como a gente está se referindo a isso. Tem um propulsor, se nota perfeitamente o propulsor, para que se vá à distância e posteriormente a explosão, com a pólvora ainda incandescente, explodindo em várias direções. É o mesmo objeto?.

Perguntado se o artefato é o mesmo que costuma ser usado pela Polícia Militar, Massini respondeu que não. ?Ele é comprado em lojas de fogos, utilizado amplamente nessas festividades.?

O Jornal Nacional ouviu também Vinícius Cavalcanti, que é especialista em explosivos. ?Inicialmente, quando a gente só tinha tido chance de ver as fotos, já dava pra saber que não se tratava de uma munição de emprego policial. Posteriormente, quando dos filmes, ficou claro que se trata de um engenho de fabricação comercial que é utilizado em comemorações. Isso é um rojão, um foguete, que também é chamado de lança, buscapé, e é uma coisa comum no país. O que acontece é que aquele ali está sem a vareta que normalmente se utiliza para estabilização dele e foi colocado criminosamente com o propósito de atingir um alvo a uma distância em terra?, explicou Cavalcanti.

Em imagens divulgadas pela agência de notícias russa Ruptly é possível ver um artefato em chamas no canto direito do vídeo. Logo em seguida, o objeto dispara para o alto, soltando muitas faíscas. É possível também ver a fumaça. Na sequência, o cinegrafista da TV Bandeirantes já aparece caído no chão.

Momentos depois, o repórter cinematográfico da TV Globo, Júnior Alves, se aproxima e registra a imagem de Santiago Andrade recebendo ajuda.

O comandante do Batalhão responsável pelo Centro do Rio, Luís Henrique Marinho, disse que estava a 30 metros do local onde o cinegrafista foi ferido e que viu pessoas vestidas de preto lançarem morteiros. Segundo o comandante, foi um desses explosivos que atingiu o funcionário da TV Bandeirantes.

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