Zélia Maria Maciel Souza disse que, poucos dias antes de morrer, sua prima, Suzana Marcolino, contou a ela que estava grávida. "Eu a acompanhei para fazer o exame e ela me disse depois que estava grávida, mas não me deixou ver o exame, ou ouvir no telefone o resultado --ela disse que ia receber esse exame por telefone. Depois que ela morreu eu analisei se ela me omitiu ou escondeu algumas coisas", afirmou.
Zélia prestou depoimento nesta quarta-feira (8) na abertura do terceiro do dia do júri popular dos quatro ex-seguranças acusados de participação na morte dela e de Paulo César Farias, em junho de 1996. Exames feitos após a morte mostraram depois que Suzana não estava grávida.
A prima de Suzana afirmou ter tido apenas um contato com PC Farias e que Suzana disse que iria casar com "um homem rico", mas "pagou caro por sonhar alto." "Suzana omitiu de mim muito tempo [detalhes de relacionamento], o porquê eu não sei", disse.
"Ela nunca deixou que ninguém da família se aproximasse do Paulo, não sei se por ciúme. Mas um dia ela disse que ia se casar, que ia ter um homem muito rico, e perguntei quem era. Ela disse que eu ia conhecer. E um dia, cerca de um mês antes de morrer, ela chegou em um BMW conversível com PC Farias, que ela me apresentou. Por sinal ele foi muito gentil e humilde", disse.
Apesar de alegar que pouco conversava com a prima sobre o relacionamento, Suzana teria dito que "estava apaixonada, e que PC também estava." "Nos fim de semana ela se ausentava, já na sexta-feira ia para a casa de praia. ela passou a arrumar o cabelo já na casa de praia, e fomos perdendo o contato."
Emocionada, Zélia afirmou que a morte de Suzana destruiu sua vida. "Fui tachada de cafetina. Depois que eu soube que foi Carlota que apresentou, e soube que ela ganhou R$ 1.200 para apresentar Suzana a ele. Por conta disso perdi minha saúde, meu emprego, minha paz."
"Hoje sou altamente descontrolada. E à época disseram que foi uma grande amiga dela que apresentou, e nunca foram atrás para saber que era Carlota", disse, às lágrimas, citando ainda que não sabia se Carlota era ou não cafetina, como alegou o advogado dos réus, José Fragoso Cavalcanti.
Arma e treino de tiros
A prima da vítima também confirmou perante o júri que ajudou Suzana a comprar uma arma menos de dez dias antes de sua morte. A arma foi comprada a uma proprietária de churrascaria de Atalaia (48 km de Maceió).
"Nós andávamos juntas, todos os dias, e ela me disse que tinha pretensão de comprar uma arma, e perguntou se eu sabia alguém que vendia. Eu disse que sabia, que a Mônica [proprietária da churrascaria], de Atalia, vendia arma", afirmou.
A arma teria sido comprada no dia 14 de junho de 1996. Dois dias antes, Suzana teria ligado para a prima, "com a voz trêmula" e apresentava tristeza. A prima ainda confirmou que Suzana, após a compra, teria passado a treinar tiros.
"Ela comprou duas caixas de munição e tinha umas munições dadas por um amigo [de nome Adelmo]. Ela tinha amigos, e pediu que ensinasse a atirar. Fomos a um sítio no Benedito Bentes e ela lá deu uns tiros", afirmou. Ainda segundo a prima, Suzana afirmou que a arma seria para defesa pessoal.
"Ela me disse que a área onde morava era desabitada e ela chegava tarde. Achei até besteira dela, porque falava umas coisas que não tinham nada a ver com nada. Ela sonhava um pouco alto, e acho que ela pagou um preço alto pelos sonhos e pela falta de estudo. Sempre ficava sabendo que ela tinha namorados de posse, gostava de luxo, carros bonitos, joias. Foi a educação dada pela mãe dela", disse.