Suspeitos de lançar um rojão durante protesto são indiciados por morte de cinegrafista da Band

Caio de Souza e Fábio Raposo foram indiciados por homicídio doloso.

Caio Silva de Souza foi preso no município de Feira de Santana | Extra
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O delegado Maurício Luciano entregou ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), por volta das 15h20 desta sexta-feira (14), o inquérito sobre a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante protesto no dia 6. Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, presos temporariamente no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste, foram indiciados por homicídio doloso.

O advogado Jonas Tadeu Nunes diz que vai pedir a anulação do inquérito. Ele esteve no presídio na tarde desta sexta, para saber o motivo de Caio ter mudado sua versão inicial e negado ter acendido o rojão. De acordo com Tadeu, Caio não demonstrou nenhum interesse em dar depoimento. Ele disse ao advogado que foi acordado na madrugada por seis policiais e se sentiu acuado.

"Ele foi acordado durante a madrugada pelos agentes penitenciários dizendo que alguns policiais queriam falar com ele. Os policiais então o acordaram dizendo que estavam ali para ajudá-lo, que ele poderia falar, porque o Fábio tinha feito a delação premiada e o estava acusando. Então, que ele teria que se defender para poder ficar em uma posição privilegiada em relação ao inquérito. Considero que todo inquérito está viciado. Houve um constrangimento ilegal e a custódia temporária dele não tem mais sentido?, disse o advogado, acrescentando que acionará a Comissão de Direitos Humanos do Ministério Público e a OAB para investigar as circunstâncias do depoimento.

Jonas disse ainda que o direito constitucional do silêncio foi violado e que pedirá o habeas corpus nos próximos dias. ?É uma temeridade se a prisão preventiva for concedida. Eles não querem se eximir das suas responsabilidades. Enquanto os dois estiverem no mesmo processo, com a mesma opinião, vou defender os dois?, afirmou.

Prisões

O delegado Maurício Luciano pediu nesta sexta-feira que as prisões de Fábio e Caio sejam convertidas de temporária para preventiva.

Fábio foi preso no domingo (9) na casa dos pais, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, e Caio foi detido na quarta-feira (12), em uma pousada em Feira de Santana, na Bahia. Ambos estão com prisão temporária de 30 dias decretada. A prisão preventiva pedida pelo delegado é por tempo indeterminado.

Na quinta-feira (13), o delegado ouviu os últimos depoimentos do caso. Segundo ele, um colega de Caio do Hospital Rocha Faria, onde o suspeito trabalhava como auxiliar serviços gerais, contou na delegacia que no dia 6, durante o protesto em que o crime ocorreu, Caio telefonou por volta das 19h30, ofegante, dizendo que tinha feito besteira e matado um homem.

O delegado explicou que a denúncia contra os dois suspeitos continua sendo por homicídio doloso eventual ? quando a intenção não é direta, mas o autor assume o risco de matar. "O dolo se divide em dolo direto e eventual. Eles estão no eventual. Os dois fizeram um trabalho em conjunto, em comunhão de esforços, não importando quem acendeu", declarou Luciano, se dizendo "satisfeito" ao saber que a promotora que vai receber o inquérito teria dito que, no entendimento dela, o caso também se enquadra em dolo eventual.

Financiamento

O inquérito sobre o suposto financiamento de grupos e participação de partidos políticos no protesto não será feito pelo delegado Maurício Luciano. A afirmação foi feita por ele durante a entrevista coletiva na quinta-feira. "O que nós temos aqui são provas robustas de testemunhas e materialidade do crime. Essa investigação não pode ser contaminada. Não posso trazer ingredientes políticos para cá", explicou.

Caio nega em depoimento

Caio negou em depoimento ter acendido o rojão que causou a morte de um cinegrafista e jogou a culpa em Raposo. A versão difere do que o suspeito havia afirmado horas antes à TV Globo na Bahia, onde foi preso. Em entrevista à reporter Bette Lucchese, ele disse que acendeu o rojão junto com Raposo. "Acendi, sim", admitiu o jovem (assista).

Mulher desabafa

A mulher do cinegrafista, Arlita Andrade, fez um desabafo no domingo (9), em entrevista exclusiva à TV Globo, e disse que "falta amor" às pessoas responsáveis por ferir gravemente seu marido. A declaração foi dada antes da divulgação da morte cerebral dele. "Eles destruíram uma família. Uma família que era unida, muito unida mesmo", lamentou Arlita. Além da mulher, Andrade deixa uma filha e três enteados.

Velório e cremação

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão quando registrava o confronto entre a Polícia Militar e manifestantes há uma semana na Central do Brasil, no Centro do Rio. Ele sofreu um afundamento do crânio, foi submetido a uma cirurgia e passou quatro dias internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipal Souza Aguiar. Na segunda-feira (10), teve morte cerebral, e a família decidiu doar os órgãos do cinegrafista.

O corpo dele foi velado e depois cremado na manhã de quinta-feira no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária. Na cerimônia, colegas de trabalho da Rede Bandeirantes e familiares estiveram presentes. Em homenagem, funcionários da emissora usaram uma camiseta com uma imagem em que o cinegrafista aparece filmando do céu.

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