Mensagens obtidas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Polícia Civil do Rio de Janeiro, mostram integrantes do Comando Vermelho (CV) negociando o pagamento de R$ 15 mil a policiais para libertar um comparsa preso durante uma operação no Complexo do Alemão. O conteúdo das conversas integra o relatório que embasou a operação mais letal da história do Rio, que resultou em 121 mortes.
O traficante Juan Breno Malta Rodrigues, conhecido como BMW, foi o responsável por negociar com os policiais. Em mensagens de WhatsApp trocadas com outros membros da facção, ele relata que os agentes “querem R$ 15 mil” para libertar o aliado capturado.
“Solta o moleque”
Nas conversas, uma criminosa identificada como Danielle Silva dos Santos pressiona BMW para que aceite o valor exigido e efetue o pagamento.
“Manda logo [o dinheiro], solta o moleque”, escreveu Danielle em uma das mensagens.
Diante da resistência de BMW em enviar o valor, ela insiste:
“Era pra você mandar tudo, que isso, BM... Não tem esse valor pra dar? Nesse valor, nosso ministro solta ele depois, nós vai pagando o que for, solta o moleque, mano. Dinheiro depois nós botamos no lugar. Se fosse você, nós ia fazer o mesmo. Nós somos uma equipe, amigo irmão, não somos parceiro de boca, não.”
O relatório da DRE menciona a figura de um “ministro” citada nas mensagens, mas não identifica quem seria o integrante mencionado pelos traficantes.
Influência dentro do Comando Vermelho
Ainda segundo a investigação, BMW exerce papel de liderança dentro do Comando Vermelho. O traficante seria o responsável por comandar punições internas e participar dos chamados “tribunais do tráfico”, podendo inclusive ordenar execuções. Ele é apontado como gerente do tráfico na Gardênia Azul e líder de um grupo de matadores conhecido como Equipe Sombra.
Apesar da influência e do envolvimento nas negociações, BMW não foi preso durante a megaoperação deflagrada nesta semana pela Polícia Civil.
Propina e “arrego”
A mesma investigação identificou indícios de pagamento de propina a policiais militares que atuam em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Segundo o relatório, o traficante Washington César Braga da Silva, o Síndico da Penha, era o responsável por intermediar os pagamentos.
Ele mantinha um telefone exclusivo para tratar com PMs. No aparelho, os investigadores encontraram uma foto de planilha de gastos da facção, na qual o item “arrego”, termo usado para designar propina, aparece em segundo lugar nas despesas, com valor de R$ 4,5 mil.
Posição da Polícia Militar
Procurada, a Polícia Militar do Rio de Janeiro informou estar ciente do relatório da DRE e afirmou que a Corregedoria Geral colabora integralmente com os procedimentos investigativos mencionados no documento.
As investigações seguem em andamento para apurar quem seriam os policiais envolvidos nas negociações e se o pagamento chegou a ser efetuado.