O traficante Fernandinho Beira-Mar ironizou nesta quinta-feira durante julgamento em Campo Grande a acusação pela morte do preso João Morel, assassinado em 21 de janeiro de 2001. "Meu nome vende jornal (...) se, por exemplo, aparecesse no jornal que a Luana Piovani está grávida e dissessem que eu sou pai, nem precisaria fazer exame de DNA, que eu já seria ele (o pai)", disse o acusado, que admite o crime de tráfico de drogas, mas nega participação no assassinato. Beira-Mar já foi condenado a 108 anos de prisão, mas não tem nenhuma condenação por homicídio.
O julgamento deve durar o dia todo e o quarteirão onde fica o prédio do Fórum, na região central de Campo Grande, está interditado e cercado por 250 policiais federais, além de policiais civis, militares, homens da Força Nacional e agentes penitenciários. Um helicóptero sobrevoa a região.
A disputa entre Beira-Mar e Morel, que seriam comparsas no tráfico de drogas, começou em janeiro de 2000, quando dois irmãos de Morel (Ramón e Mauro) foram assassinados em Capitan Bado, cidade paraguaia que faz fronteira com o município sul-mato-grossense Coronel Sapucaia. Beira-Mar teria mandado matar Ramón e Mauro. Em maio de 2000, Morel foi preso na fronteira e levado para Campo Grande. Um ano depois, foi assassinado por colegas de cela. Beira-Mar disse anteriormente, em depoimento, que Morel "tinha muitos inimigos" interessados em matá-lo. Três dos sete presos que teriam participado do assassinato foram mortos após afirmarem que Beira-Mar foi o mandante do crime.
Segundo a acusação, Morel prestou um depoimento reservado à CPI do narcotráfico, concluída em 2001, e descreveu ações de tráfico do então companheiro na fronteira. Beira-Mar, de acordo com a promotora Luciana Rabelo, teve acesso ao depoimento e começou uma disputa com a família Morel, que dominou o tráfico na fronteira entre Paraguai e Mato Grosso do Sul por quatro décadas. Em um dos ataques, ainda em 2001, teriam sido mortas seis pessoas em uma fazenda no Paraguai, inclusive dois filhos de Morel.