A Polícia Civil concluiu o inquérito que apura o assassinato da enfermeira Amanda Fernandes Carvalho, morta pelo marido, o sargento da Polícia Militar Samir Carvalho, dentro de uma clínica médica em Santos, no litoral de São Paulo. O crime ocorreu em 7 de maio, e segundo a delegada Deborah Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), o autor demonstrou frieza e nenhum arrependimento durante a investigação.
De acordo com a delegada, Samir foi preso em flagrante após invadir a clínica na Avenida Pinheiro Machado, bairro Marapé, onde atacou Amanda com três tiros e 51 facadas. A filha do casal, de 10 anos, também foi ferida e precisou ficar internada por três dias. Amanda morreu ainda no local.
O inquérito reuniu laudos periciais e depoimentos, e já foi encaminhado ao Fórum de Santos. Samir foi indiciado por feminicídio e também deverá responder por tentativa de homicídio contra a própria filha.
A reconstituição do crime, realizada em 22 de maio, foi considerada essencial para esclarecer a dinâmica do ataque. “O que mais me chamou a atenção foi a frieza dele. Disse que não lembrava de nada, e não demonstrou qualquer emoção. Dado o grau de violência, esperávamos pelo menos algum sinal de arrependimento — o que não aconteceu”, afirmou Deborah.
Conduta dos policiais é investigada
A delegada também confirmou que a atuação dos policiais militares que atenderam à ocorrência está sendo apurada em um inquérito da própria PM. Quatro agentes foram acionados, mas apenas dois entraram na clínica no momento do crime.
Segundo depoimentos, os dois PMs foram conduzidos até a sala onde Amanda e a filha estavam trancadas com um médico, que tentava protegê-las. Samir, do lado de fora, se aproximou dizendo ser sargento e alegou que apenas discutira com a esposa. Ele mostrou a barriga para indicar que estava desarmado, mas revelou posteriormente, durante a reconstituição, que havia escondido a arma dentro da calça.
Os policiais relataram que pediram para Samir se afastar e solicitaram ao médico que abrisse a porta. Nesse momento, o sargento teria passado por trás dos agentes, efetuado os disparos e, em seguida, atacado a esposa com dezenas de facadas. A filha também foi atingida.
Um dos policiais afirmou que, diante dos disparos, ele e o colega se abaixaram para se proteger. Eles disseram ainda que não reagiram com tiros porque a secretária da clínica estaria na linha de fogo. No entanto, essa versão foi questionada pela família da vítima. Segundo o advogado Claudino Vicente dos Santos, a secretária relatou ter saído da frente assim que a porta foi aberta. “Essa justificativa de linha de tiro não se sustenta”, disse o advogado.
Os policiais afirmaram que gritavam para Samir largar a arma e pediam que a secretária saísse da frente para poderem entrar. Quando conseguiram acesso, Amanda já estava morta. Samir se rendeu com as mãos levantadas, foi algemado e conduzido à viatura. Segundo relato de um dos agentes, ao ser preso, ele apenas disse: “Ela me traiu”, sem qualquer expressão facial.
Detalhes do laudo necroscópico
O laudo necroscópico aponta que a maioria das facadas atingiu o lado direito do corpo da vítima, com cortes que iam da coxa até o rosto. Os tiros foram disparados à distância. A causa da morte foi “anemia aguda por hemorragia interna traumática”, decorrente dos ferimentos provocados por facadas e disparos.
Agora, cabe ao Ministério Público avaliar o inquérito e decidir se há elementos suficientes para formalizar uma denúncia e levar Samir Carvalho a julgamento.