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Rio de Janeiro concentra metade das mortes violentas de agentes de segurança em 2025

Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), ligado ao Ministério da Justiça.

Rio de Janeiro concentra metade das mortes violentas de agentes de segurança | Foto: SINEJ
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O número de agentes de segurança mortos no Rio de Janeiro aumentou significativamente nos quatro primeiros meses de 2025. Foram 37 casos registrados entre janeiro e abril, contra 18 no mesmo período do ano passado, mais que o dobro. Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), ligado ao Ministério da Justiça.

Esse número representa 52% das mortes de profissionais de segurança em todo o país no ano, que somaram 71 no total. É a primeira vez, desde 2015, que o Rio concentra mais da metade das mortes de agentes no Brasil.

Enquanto o Rio registrou aumento, a soma dos demais estados e do Distrito Federal teve queda de 35%: foram 52 mortes entre janeiro e abril de 2024, e 34 no mesmo período de 2025.

Governo do RJ atribui alta à limitação de operações em favelas

A Secretaria de Segurança Pública do Estado lamentou as mortes e relacionou o aumento ao que chama de restrições impostas pela ADPF das Favelas — uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que passou a exigir justificativa para operações policiais em comunidades durante a pandemia. O governo fluminense não detalhou os casos a pedido do g1.

Segundo o governo estadual, a retomada das operações em áreas antes sem presença policial tem levado a confrontos e, consequentemente, à morte de agentes.

Especialistas contestam explicação

Para a professora Jacqueline Muniz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), culpar a decisão do STF é uma leitura simplista e sem base técnica. Ela afirma que a medida busca qualificar o trabalho da polícia, exigindo planejamento e justificativas nas ações. “Não é a ADPF. É a falta de estratégia e a perda de confiança da população nas polícias que ampliam os riscos”, disse.

Segundo ela, esse cenário gera mais resistência de moradores, tanto armada quanto desarmada. Também aumenta o risco de excessos e violência.

O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente Filho avalia que o número de mortes é reflexo de má gestão. Para ele, faltam ações de inteligência que reduzam os riscos nas operações. “Um agente morto já é muito. Trinta e sete é uma tragédia”, afirmou. Ele defende mais treinamento e proteção aos profissionais, inclusive fora do horário de serviço.

Aumento entre policiais civis e agentes penitenciários

O crescimento das mortes no estado atingiu diferentes categorias. No caso dos policiais civis, não houve registros no primeiro quadrimestre de 2024, mas foram quatro em 2025. Já os agentes penitenciários passaram de dois para dez casos. Entre policiais militares, o número subiu de nove para 17. O único grupo com queda foi o dos bombeiros, que passaram de sete para seis mortes.

Das 37 mortes, ao menos 10 ocorreram quando os agentes estavam de folga. Uma foi durante operação policial e outra, enquanto o agente estava em serviço, mas fora de ação oficial.

Caso em Vargem Grande

Um dos casos foi o do policial civil João Pedro Marquini, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), morto a tiros em março, na Zona Oeste do Rio. Ele estava em seu carro quando foi abordado por criminosos na Grota Funda. Após o crime, dois suspeitos foram mortos em operações da Polícia Civil. A Secretaria de Segurança Pública investiga o caso.

RJ lidera ranking de mortes no país

O Rio foi o único estado com aumento expressivo nas mortes de agentes. A Paraíba também registrou crescimento, passando de uma para duas mortes. Outros 10 estados e o Distrito Federal apresentaram queda. Em nove estados, não houve nenhuma morte de agente de segurança até abril.

Se os dados do Rio forem retirados da conta nacional, o país teria tido queda nas mortes em 2025 — de 70 para 34 — o que reforça o impacto da situação fluminense sobre o cenário nacional.

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