O Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, amanheceu nesta quarta-feira (29) tomado pela dor e pelo luto. Moradores da comunidade levaram pelo menos 72 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, uma das principais vias da região. A cena ocorreu durante a madrugada, horas após o fim da operação mais letal da história do estado.
Desde terça-feira (28), o número de mortos já chega a 130. O último balanço oficial do governo contabilizava 60 suspeitos e quatro agentes de segurança, civis e militares. Os corpos levados à praça, porém, não constam nos números oficiais, segundo informou o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira.
Uma perícia será realizada para confirmar se as mortes estão relacionadas à operação. Se confirmadas, o total pode ultrapassar 100 vítimas apenas em um dia.
Corpos levados da mata para a praça
De acordo com informações, os corpos, todos de homens, foram encontrados na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde aconteceram os confrontos mais intensos entre policiais e integrantes do tráfico.
O ativista Raull Santiago, morador da região, ajudou a resgatar os corpos. “Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido”, disse.
Moradores afirmam que decidiram levar os corpos até a praça para facilitar o reconhecimento pelas famílias. Muitos foram deixados sem camisa, para que tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença ficassem visíveis.
Testemunhas relatam que vários mortos tinham ferimentos de fuzil, e alguns estavam com o rosto desfigurado.
Reconhecimento oficial e perícia
A Polícia Civil informou que o reconhecimento oficial será feito no prédio do Detran, ao lado do Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio, a partir das 8h desta quarta-feira.
Durante o processo, o acesso ao IML será restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público, responsáveis pelos exames periciais. Já os corpos sem relação com a operação serão levados para o IML de Niterói, para evitar sobrecarga.
Mais cedo, moradores levaram seis corpos em uma Kombi até o Hospital Estadual Getúlio Vargas, também na Penha. O veículo chegou em alta velocidade e deixou o local logo em seguida, segundo testemunhas.
A megaoperação, que envolveu mais de 2.500 agentes, segue sob investigação.