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Repórter esportivo é baleado por PM após ser confundido com bandido no Rio de Janeiro

A esposa da vítima relatou ainda que a mulher responsável pela acusação contra Igor estava embriagada e afirmou ter tido o celular roubado.

Igor Melo é estudante de publicidade e foi baleado após ser confundido | Foto: Reprodução
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O repórter esportivo Igor Melo, administrador do site Informe Botafogo, está internado após ser baleado por um policial militar da reserva na noite desta segunda-feira (24/2). O disparo aconteceu depois que Igor foi erroneamente identificado como um assaltante ao sair do trabalho na Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro.

O repórter havia solicitado um serviço de moto por aplicativo para retornar para casa quando foi atingido pelo tiro. O disparo resultou na perda de um dos seus rins. Segundo sua esposa, Marina Moura, que se manifestou pelas redes sociais, Igor está consciente e seu estado de saúde é estável.

Marina relatou ainda que a mulher responsável pela acusação contra Igor estava embriagada e afirmou ter tido o celular roubado. O marido dela, um policial militar da reserva, efetuou o disparo que atingiu o jornalista. Igor, de 32 anos, é pai de um menino de dois anos.

Igor Melo foi confundido com assaltante e baleado - Foto: Reprodução

POSICIONAMENTO DA POLÍCIA

A Polícia Militar do Rio de Janeiro divulgou uma nota sobre o caso:

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Polícia Militar informa que, de acordo com o comando do 16º BPM (Olaria), policiais militares foram acionados para verificar uma ocorrência de invasão de domicílio na Avenida Lobo Júnior, Penha. No local, constataram que dois homens em uma motocicleta haviam sido alvejados por tiros disparados de um veículo não identificado. Um dos ocupantes foi atingido e socorrido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas.

Ainda segundo a nota, o caso foi registrado na 22ª DP (Penha), onde um policial militar da reserva se apresentou como autor dos disparos. A esposa do PM teria reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo de seu celular. Um dos homens foi preso, enquanto o outro permaneceu sob custódia no hospital.

Segundo familiares, Igor trabalhava em três empregos - Foto: Reprodução

COMO ACONTECEU

Familiares explicam que Igor trabalha como garçom aos fins de semana na casa de samba Batuq, na Penha. Na noite do incidente, ele solicitou uma moto por aplicativo para retornar ao bairro de Turiaçu, onde mora.

Durante o trajeto, percebeu que um carro seguia a motocicleta. Pouco depois, tiros foram disparados, e ele caiu no chão. Mesmo ferido, conseguiu ligar para colegas de trabalho, que o socorreram ao Hospital Estadual Getúlio Vargas.

No hospital, uma mulher apareceu e afirmou reconhecer Igor como o responsável pelo roubo de seu celular horas antes. Com isso, ele foi detido e passou a permanecer sob custódia policial. Imagens obtidas por familiares mostram Igor embarcando na moto por aplicativo por volta das 1h30.

A Comissão Popular de Direitos Humanos acompanha o caso e solicitou esclarecimentos à 22ª DP. Durante a semana, Igor cursa Publicidade e Propaganda na Faculdade Celso Lisboa, onde também trabalha no setor administrativo.

“ELE SÓ QUERIA DAR UMA VIDA MELHOR PARA A FAMÍLIA”

Em entrevista à TV Globo, Marina Moura afirmou que, ao despertar, Igor perguntou pelo filho e insistiu que não havia cometido crime algum. “Igor é um homem trabalhador e sonhador. Ele quer ser jornalista esportivo porque ama o Botafogo. Para sustentar nossa família, trabalha em três empregos: é inspetor na Celso Lisboa, garçom nos finais de semana e ambulante no carnaval. Ele sempre quis nos dar uma vida melhor.”

A esposa também desabafou sobre o que considera uma injustiça: “Meu marido nunca se envolveu em nada errado. Quando acordou, perguntou do nosso filho e disse que não tinha feito nada. Eu conheço meu esposo. Isso é uma injustiça, isso é racismo. A bala sempre atinge um corpo preto. Hoje, poderíamos estar chorando sua morte.”

“FIZERAM JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS”

Nesta segunda-feira, a mulher do PM foi até o hospital e declarou que Igor não era um dos assaltantes.

A prima do jornalista, Pâmela Carvalho, também se manifestou: "O Igor é negro, estudante de Publicidade e Propaganda, trabalha como inspetor na faculdade Celso Lisboa e ainda faz bicos para complementar a renda. Ele foi atingido pelas costas, passou por cirurgia, perdeu um rim e teve estômago e intestino gravemente afetados porque uma mulher foi assaltada e, junto com o marido policial, decidiram fazer justiça com as próprias mãos. Eles viram um homem negro em uma moto e presumiram que era um criminoso.”

A Polícia Civil ainda não explicou por que Igor permanece sob custódia, já que a mulher do PM reconheceu apenas o condutor da moto como suspeito.

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