A chamada PEC 37, que visa tirar poder de investigação do Ministério Público, tem criado muita discussão em todo o país. Para o delegado Tiago Dias, o certo seria o Ministério Público ter os mesmos controles sobre a investigação que as polícias. Para ele, o que deveria ser discutido é a ideia de reforçar o trabalho conjunto entre as instituições, e o fortalecimento das polícias.
"Vemos atualmente muitos delegados se tornando defensores públicos, preferem mudar de carreira", disse. Ele comentou que o salário inicial de um defensor público é maior do que o de delegado no final da carreira. "É preciso fortalecer a instituição que faz 99% das investigações", disse o delegado, completando que policiais passam por pressões e situações extremas.
Para Paulo Rubens, presidente da Associação do Ministério Público, as instituições devem se somar, e que a intenção do Ministério Público é completar investigações da polícia, e investigar independentemente quando for necessário. "Não queremos e nem temos estrutura para investigar tudo, mas queremos ajudar quando for necessário", disse. O Ministério, segundo ele, é o fiscal da lei.
Um dos argumentos mais ouvidos em favor da PEC é o fato de que o Ministério Público não pode ser investigador e acusador, pois a posição dupla daria a possibilidade da instituição fazer o trabalho investigativo não sendo imparcial. Sobre isso, Paulo Rubens argumenta que isso vai contra a própria ideia do Ministério Público como fiscal da lei.
Fernanda Lages
Durante a discussão, o delegado Tiago Dias lembrou do caso dos promotores Eliardo Cabral e Ubiraci Rocha, que usando excessivamente a mídia, acabaram por levantar suspeitas contra várias pessoas, sem apresentar provas. "Alguns promotores tentam atrair platéia, não investigam. O promotor que investiga realmente está do lado da polícia", disse o delegado, não se referindo diretamente aos promotores em questão, os quais chegou a defender e dizer que foram muito bem sucedidos em outros casos em que trabalharam. "Não quero generalizar. Se houve erro por parte dos promotores, poderia ter acontecido por parte dos delegados. Não foi um erro da instituição, mas um erro pessoal".
Paulo Rubens disse que ninguém está isento de erros, mas que acompanhou o trabalho dos promotores e confia no trabalho deles. Para ele, é preciso ter muita coragem para fazer o que eles fizeram, no sentido de criticar o trabalho da polícia. "Não posso falar muito, pois a investigação continua", afirmou o promotor.