O promotor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) Itapuan Vasconcelos afirmou nesta terça-feira (15) que o trio suspeito de canibalismo em Garanhuns, no Agreste do estado, confessou outros seis homicídios em áreas do Recife e de Olinda, totalizando nove mortes.
Três inquéritos apuram o caso: um na Paraíba (uma vítima), um em Olinda (seis), que está em andamento, e um terceiro em Garanhuns (duas). A denúncia de Garanhuns, feita pelo MPPE, foi recebida na última quinta-feira (10) peloTribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), por meio do juiz José Carlos Vasconcelos Filho, da 1ª Vara Criminal do município do Agreste. O homem e as duas mulheres passam agora a ser réus no processo judicial, acusados de matar, esquartejar e comer a carne de duas vítimas em Garanhuns. Eles vão responder pelos crimes de duplo homicídio triplamente qualificado, além de falsidade ideológica, estelionato, ocultação de cadáver e falsificação de documentos.
?É brabo o negócio. Existiam ainda mais duas mulheres aqui na região, que provavelmente seriam vítimas, uma de Jupi e outra de Lagoa do Ouro [ambos municípios do Agreste pernambucano]?, contou. Mas as investigações com relação a vítimas fora de Garanhuns ainda continuam, esse é um outro inquérito que corre em paralelo, segundo a Polícia Civil, que ainda informou que só irá detalhar as investigações após a conclusão do outro inquérito.
O juiz também decretou a prisão preventiva dos suspeitos porque o prazo da prisão temporária, que é de 30 dias, já estava prestes a vencer. De acordo com o TJPE, a defesa é citada para responder em um prazo de 10 dias. Caso eles não constituam um advogado, o juiz determina a nomeação de um defensor público.
Segundo Itapuan de Vasconcelos, o juiz acatou a denúncia de Garanhuns em sua totalidade. ?Ele já deve ter determinado a citação dos acusados para que eles ofereçam uma resposta. Após essa primeira defesa, o juiz analisa o teor da resposta e geralmente ele determina a audiência de instrução e julgamento, vai ouvir todo mundo, testemunhas, peritos e, por último, os acusados. Depois disso, decide se é caso para o tribunal do júri ou não. Como a prova contra eles é muito contundente, o juiz normalmente manda para o júri popular?, explicou o promotor.
O promotor falou sobre a denúncia enviada pelo MPPE à Justiça. ?Relatamos como eles agiam. Eles atraíam as vítimas, apenas mulheres, com promessa de emprego ou para falar de Deus. A primeira vítima, aqui em Garanhuns, foi atraída para pregar a palavra de Deus e quando estava na casa dos suspeitos conversando, o homem saiu de trás da residência e desferiu um golpe grande nela. Ele cortou o pescoço dela, levaram para o banheiro e esquartejaram. Eles também ingeriram a carne dela?, disse Vasconcelos.
Itapuan também contou que a segunda vítima foi atraída com promessa de emprego. Segundo o promotor, eles teriam informado que faziam parte de uma seita, chamada de Cartel, e que uma entidade falava para eles qual pessoa tinha que matar. O motivo do crime seria porque as consideravam pessoas impuras.
O trio ainda criava uma menina de cinco anos, que teria presenciado os crimes, e seria filha de uma das vítimas em Olinda. Esse caso faz parte de outro inquérito que está sendo conduzido pela Polícia Civil. ?Eles teriam matado essa mulher que era pedinte e ficado com a criança. A menina tem dois registros de nascimento falsos. O primeiro foi registrado na Paraíba, no Conde, com o nome do irmão do réu. Uma das suspeitas assumiu a identidade da vítima, tirou carteira de identidade, cartão de crédito, tudo?, informou Vasconcelos.
Sobre a defesa dos suspeitos, o promotor acredita que siga a tese de inimputabilidade. ?Isso significa que eles não podem ser responsabilizados por esses crimes por possível doença mental. É provável que o processo gire em torno dessa tese de que eles não teriam conhecimento da ilicitude do fato e não poderiam se determinar de acordo com esse entendimento. Vamos ver a postura que vai se adotar. A denúncia foi recebida agora, está na fase inicial?, comentou. ?Por outro lado, eles fizeram compras com o cartão de uma das vítimas, assinavam por ela. A gente se pergunta se eles realmente não tinham consciência do fato?, indaga.
Com relação à suspeita de que as carnes das vítimas eram usadas para fazer salgados que seriam vendidos na cidade, o promotor acredita que parece mais uma lenda. ?Não tiro a possibilidade, mas também não tem como provar. No inquérito tem uma pergunta que foi feita ao homem: se eles utilizavam as carnes nas coxinhas. Ele disse que se elas [as suspeitas] fizeram isso não tinham autorização para tanto, elas sabiam que era para o consumo em casa. Eles tratavam isso como missão, como ritual. A gente não tem como provar, nos autos, especificamente, em termo de depoimento, eles não falaram nada. Se não me engano, uma das mulheres disse isso em uma entrevista?, finalizou.