O promotor responsável pelo caso da morte da advogada Mércia Nakashima, Rodrigo Merli Antunes, disse nesta quinta-feira que o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de envolvimento no assassinato, mentiu no segundo depoimento que prestou à polícia. Preso no último sábado, Evandro deu novos detalhes sobre o crime. Ele admitiu que encontrou com o policial aposentado Mizael Bispo de Souza no dia do assassinato, mas negou participação no crime.
"Eu vejo que ele (Evandro) acusa o Mizael e tenta tirar sua parcela de responsabilidade. Ele fez isso para reforçar a acusação contra o Mizael, mas na parte em que ele tenta se eximir, para mim ficou bem claro que ele está mentindo. O que ele afirma, nós temos provas técnicas que desmentem. No dia 23 (de maio de 2010, dia do assassinato), ele se comunicou com o Mizael por 19 vezes, segundo o rastreamento do celular", disse Rodrigo Merli Antunes.
O promotor também assegurou que Evandro não diz a verdade quando afirma que ficou em um posto de gasolina durante todo o dia do homicídio. "Isso não bate com as provas que temos. As antenas de celular indicaram que ele estava no mesmo bairro que a Mércia o dia todo. Os dois (Evandro e Mizael) sabiam onde ela estava e estavam no seu encalço."
Para Rodrigo Merli Antunes, o vigia está tentando delatar Mizael com o objetivo de reduzir sua pena. "Mas isso não caracteriza delação premiada", disse o promotor. "Na delação premiada, além de delatar, a pessoa tem que assumir sua parte da responsabilidade. O que me parece é que ele está tentando tumultuar", completou.
Depoimento
Evandro Bezerra Silva foi preso no último sábado, em Alagoas. Em seu depoimento, que foi gravado pela polícia e pelo Ministério Público (MP) por precaução, ele relembrou a noite do assassinato, quando disse ter ido buscar Mizael perto da represa de Nazaré Paulista, sem saber o que acontecia: "eu não sabia o que estava acontecendo. Ele estava em uma festa com amigos e sem o carro. Disse que os amigos foram embora e deixaram ele lá", declarou.
O vigia afirmou que Mizael portava duas armas na noite do crime. "Era um 38 e uma pistola. Eu sei que ele estava com as duas armas dele", relatou. Depois de preso e libertado, Evandro teria ouvido ainda uma conversa entre Mizael e o irmão sobre o local em que o corpo e o carro de Mércia foram encontrados, na represa de Nazaré Paulista. "Eles disseram que não teriam que deixar o carro ali, tinha que ter puxado o carro mais para frente. Não era para deixar o carro naquele lugar, onde era raso e a água ia baixar. Depois, deu no que deu".
O caso Mércia
A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010 e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água. O principal suspeito do crime é o ex-namorado de Mércia, o policial aposentado Mizael Bispo de Souza, que não aceitaria o fim do relacionamento. O vigia Evandro Bezerra Silva é suspeito de ter auxiliado Mizael no crime.
Logo após a morte de Mércia, Evandro teria fugido para Sergipe, onde foi preso em julho do mesmo ano. Em um primeiro momento, ele disse ter ajudado Mizael a fugir, mas voltou atrás depois, alegando ter sido torturado para confessar o crime. Rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocariam os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Além disso, a polícia encontrou nos sapatos do ex-policial pequenas manchas de sangue, fragmentos de osso e chumbo, além de uma alga presente na represa. Mizael chegou a ter a prisão decretada em agosto, mas o mandado foi revogado dias depois. No mesmo mês, Evandro foi solto. Ambos negam todas as acusações.
No dia 7 de dezembro de 2010, a Justiça de Guarulhos decretou a prisão preventiva de Mizael e de Evandro, e determinou que ambos fossem levados a júri popular pelo crime. O ex-namorado de Mércia foi denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. O vigia foi denunciado por homicídio duplamente qualificado (emprego de meio insidioso ou cruel e mediante recurso que tornou impossível a defesa da vítima) e ocultação de cadáver