Chegou ao fim o desespero da família da recém-nascida sequestrada sexta-feira do Hospital São José dos Lírios, São Gonçalo. Ontem, Tanit Cardoso Peixoto, 27 anos, que tirou Ayana Milla Barbosa de Moraes dos braços da mãe, alegando que faria exames na menina, entregou-se à 154ª DP (Cordeiro), com bebê e advogado.
?Nasci de novo. Não vejo a hora de sair daqui e levar meu bebê para inaugurar o berço. Nunca perdi a esperança, mas, agora, nem para tomar banho ela sai de perto de mim?, disse a mãe, Elisa da Silva Barbosa, 27.
Com jaleco branco e estetoscópio rosa, a sequestradora dizia ser pediatra. A ação durou menos de 15 minutos: imagem do circuito interno mostra Tanit entrando no banheiro do hospital com a criança e depois saindo só com uma bolsa, provavelmente com Ayana dentro. ?Ela entrou calma, dizendo que a enfermeira estava ocupada e ela mesma iria levar nossa filhinha para fazer os exames. Acreditamos?, lamentou o auxiliar de produção Joffree Lazarius de Moraes, 27, pai do bebê.
A polícia passou o dia investigando rastros. Tanit usou cartão de débito para comprar jaleco e estetoscópio em loja próxima à unidade. Também foram pedidas as imagens das câmeras do 7º BPB (São Gonçalo) e de um posto de gasolina local, para checar se alguém à esperava. ?Vamos apurar se houve comparsa?, explicou o delegado da 72ª DP, Geraldo Assed. Ele contou que Tanit teria dito, em Cordeiro, que perdeu um bebê e queria outra criança.
A direção do hospital negou falha na segurança. O diretor, Sérgio Moutinho, só chamou a polícia uma hora depois. ?A própria mãe deu a criança. A sequestradora saiu com ela na bolsa, e não revistamos pertences das pessoas?, justificou.
Sequestradora tentou raptos em dois hospitais
Ayana Milla não foi o único alvo de Tanit Cardoso Peixoto. Antes, ela tentou sequestrar mais uma criança, no Hospital & Clínica São Gonçalo, também no bairro Zé Garoto, e entrar no hospital municipal Pronto-Socorro de São Gonçalo, onde foi barrada.
A filha do autônomo Elias Helon Chermont, 20 anos, internada no Hospital São Gonçalo, chegou perto de ser vítima da sequestradora. ?Ela entrou no quarto simpática e tranquila, dizendo que era berçarista e levaria minha filha para fazer exames. Estranhei, porque ela estava com duas bolsas. Logo chegou enfermeira pedindo para ela sair?, contou Elias. A segurança foi chamada, mas, após apresentar carteira de enfermeira, possivelmente falsa, a mulher foi liberada.
?Foi absurdo eles deixarem uma suspeita de sequestro ir embora. Isso mostra como o local é inseguro. Quando vi as imagens dela na TV e reconheci que era a mesma, chorei?, disse a tia da esposa de Elias, Andrea Fernandes, 34 anos.
Delegado da 72ª DP (São Gonçalo), Geraldo Assed vai apurar se houve negligência por parte dos hospitais. No primeiro, mesmo identificada como possível criminosa, ela foi liberada.
Apenas 5 horas com a filha: mãe fez apelo dramático por sua volta
Os pais de Ayana ficaram apenas cinco horas com a filha entre seu nascimento e o sequestro. A mãe, Eliza da Silva Barbosa, auxiliar administrativo, fez um apelo desesperado após saber que a criança não estava mais no hospital: ?Não sei por que você fez isso, o que você quer. Mas devolva a minha filha, por misericórdia. Lutamos muito para tê-la?, implorou ao sequestrador. Após o choque, Eliza sofreu hemorragia.
O pai, Joffre Lazarius, reclamou do sistema de segurança do hospital. ?Como alguém pode pegar a filha dos outros assim? Como alguém anda pelo hospital como se estivesse em casa??, questionou.
Ele contou que a família estava ansiosa à espera da chegada de Ayana Milla. ?O quartinho dela estava pronto e as roupinhas todas compradas. Quando soube que ela tinha sumido, fiquei desesperado, não sei nem como descrever. Foi o pior momento da minha vida? , lembrou o auxiliar de serviços gerais.