Dois dias após ser interditado pela Defesa Civil, um prédio residencial desabou na manhã desta terça-feira (6) no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. O Edifício Kátia Melo, de quatro pavimentos, ruiu por completo por volta das 10h51. Apesar de não haver registro oficial de vítimas, equipes do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e cães farejadores realizam varreduras para confirmar se ninguém foi atingido.
A estrutura era do tipo conhecido como “prédio-caixão”, caracterizado por construções sem pilares nem vigas de sustentação. Esse modelo, comum no estado desde a década de 1970, vem apresentando sucessivos desmoronamentos nas últimas décadas.
Segundo a Defesa Civil de Jaboatão, o prédio apresentava sinais evidentes de risco, como fissuras nas paredes, piso afundando e indícios de movimentação estrutural. O imóvel foi desocupado após a interdição no último domingo (4). Ainda assim, não se descarta a possibilidade de alguém ter entrado no edifício após o bloqueio.
“O procedimento agora é fazer uma varredura no local com uso de cães de busca”, afirmou o coronel Elton Moura, secretário de Defesa Civil de Jaboatão. “Desde a interdição, a responsabilidade pela área passou a ser da administradora do condomínio.”
‘Achei que fosse um caminhão batendo’
Moradores da vizinhança relataram o susto com o barulho do desabamento. A artesã Rosa Alcântara, que mora em frente ao prédio, disse ter ouvido um estrondo.
“Quando olhei pela janela, só vi poeira cobrindo tudo. Foi quando percebi que o prédio tinha caído”, contou.
A ex-moradora Alneide, que vivia no segundo andar, relatou que a estrutura vinha apresentando sinais de alerta.
“A porta começou a encostar no chão, não fechava mais. Eu consertava e no dia seguinte o problema voltava. O prédio estava cedendo”, afirmou.
A empresa Neoenergia informou que enviou uma equipe ao local e cortou o fornecimento de energia elétrica para evitar novos acidentes durante as buscas.
Histórico de tragédias
O desabamento do Edifício Kátia Melo se soma a uma série de acidentes envolvendo prédios do tipo “caixão” no Grande Recife. Esses edifícios são feitos com alvenaria estrutural, sem concreto armado, o que reduz o custo e acelera a construção, mas compromete a segurança ao longo do tempo.
Um estudo do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) identificou 5,3 mil prédios-caixão nas cidades de Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão. Destes, aproximadamente mil apresentavam risco alto de desabamento e 260 estavam em situação crítica, com risco muito alto.
Apesar de demolições e quedas ao longo dos anos, muitos desses prédios continuam habitados. Em 2023, 148 edificações com risco “muito alto” de desmoronamento ainda estavam de pé na região.
Nos últimos anos, tragédias se repetiram. Em abril de 2023, seis pessoas morreram com o desabamento do Edifício Leme, em Olinda. Em julho, outras 14 vidas foram perdidas com a queda de um bloco do Conjunto Beira-Mar, em Paulista.
Enquanto o modelo estrutural envelhece e se degrada, especialistas alertam: a prevenção é urgente e o próximo desabamento pode não terminar sem vítimas.