A investigação da Polícia Civil que levou ao indiciamento de uma médica sob suspeita de homicídio teve o apoio de um policial disfarçado de auxiliar de enfermagem na UTI de um hospital de Curitiba.
Apuramos que esse agente permaneceu por dois meses infiltrado no Hospital Universitário Evangélico, entre o fim de 2012 e o início deste ano, próximo de Virgínia Soares Souza, 56, presa desde o início da semana. Ela nega ter cometido crimes.
A polícia usa o relato desse policial na investigação, iniciada há um ano, e ainda apura a possível participação de outros funcionários da UTI na morte de pacientes. O inquérito está sob sigilo.
A prisão da médica motivou uma onda de registros de ocorrência por familiares de pessoas que morreram quando estavam internadas no local.
Cerca de 60 novos depoimentos foram colhidos desde terça-feira pela polícia, dez vezes o total de casos do inquérito --que oficialmente investiga seis mortes, segundo apurou a reportagem.
A técnica de enfermagem Edinéia de Lima Leal, 27, foi ontem à polícia relatar a morte do irmão Ewerton Virgílio Leal, 21, em 2012, de parada respiratória, após sofrer acidente de motocicleta, ficar tetraplégico e passar 30 dias internado.
"O quadro era grave por causa da perda de movimentos. Mas era um menino de 21 anos, supersaudável", disse à Folha.
Segundo ela, o irmão chegou a dizer que queriam matá-lo, retirando o oxigênio dele várias vezes. "Nós não temos prova, mas queremos que investiguem", disse. O hospital confirma que Ewerton esteve internado na UTI.
Segundo policiais, os novos casos são registrados e darão origem a outros inquéritos. Será analisado se os relatos são verossímeis e, se comprovadas irregularidades, poderão ser anexados à investigação principal.
Uma ex-paciente disse ao "Jornal Nacional" que ficou internada em dezembro e ouviu a médica mandando que desligassem seus aparelhos. Ela disse que, na ocasião, escreveu um bilhete pedindo para que fosse retirada de lá.
Ontem, o "Jornal Hoje" exibiu depoimento de uma ex-técnica de enfermagem que disse ter visto um colega injetando uma seringa numa paciente de 83 anos, em 2009, após conversa com Virgínia.
"Minutos depois, ela [a idosa] foi a óbito", disse a mulher, que não se identificou.
A direção do hospital diz já ter mudado a equipe da UTI.