A Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso abriu um procedimento administrativo na segunda-feira (13) após fotos de uma suposta agressão cometida por policiais contra uma família de Cuiabá serem publicadas em uma rede social. Nas imagens, um grupo de PMs aparece imobilizando os moradores. Um deles, inclusive, é segurado pelo pescoço. O comando da PM diz, com base no boletim de ocorrência registrado pelos PMs, que os agentes envolvidos na ação não cometeram nenhuma ilegalidade.
A família é moradora do bairro Jardim Leblon, localizado na periferia de Cuiabá. Em entrevista, eles relataram que viveram "momentos de pânico" durante a abordagem que envolveu cinco viaturas e 10 policiais na noite deste último sábado (11). A família ainda afirmou que os policiais envolvidos na ação tiraram a identificação da farda para dificultar "uma possível denúncia".
Segundo eles, a polícia esteve no local para vistoriar um rapaz que não tinha CNH, mas estava com uma moto estacionada em frente à casa deles. Neste momento, contam os familiares, dois integrantes da família que passavam pelo local foram parados pelos PMs. Eles alegam que não tinham nenhuma ligação com o condutor da moto.
?Levei muitos socos e "gravatas" no pescoço. Eu acho que só fui preso como um pretexto para responder à má ação deles?, afirmou Ericsson Nascimento, de 22 anos. Outros dois primos dele também foram algemados e levados para a Central de Flagrantes da capital. A família afirmou que o momento mais tenso da ação policial ocorreu quando um tiro disparado de uma pistola ponto 40 quase acertou a mãe de dois dos detidos.
?Eu estava tentando tirar o meu filho daquela confusão e um policial disparou o tiro. Ele [tiro] passou de raspão pela minha cabeça. Se ele tivesse me pegado eu nem estaria aqui hoje?, disse a dona de casa, Anilsa Nascimento da Silva.
O tiro foi disparado na rua. Parte da família foi prestar socorro à dona de casa quando foi surpreendida pelos policiais. ?Foi nesse momento que eles invadiram a casa dos meus pais [que fica na mesma rua], trancaram o portão da casa e passaram a agredir o meu irmão que foi algemado e levado para a delegacia. O meu pai tentou tirar o meu irmão das mãos dos policiais e também foi agredido. Eu ainda não sei porque tudo isso aconteceu?, informou Eliane Siravegna, de 25 anos, que está grávida de dois meses, e presenciou o tumulto.
A pedagoga Selma Nascimento diz que viveu o pior momento da vida quando viu o filho e dois sobrinhos detidos. ?Houve excesso. Sou professora e sempre digo aos meus alunos que eles precisam respeitar as leis. Mas depois disso, respeitar as regras para quê? Minha família viveu um momento de muito estresse físico e psicológico que não sabemos se iremos nos recuperar tão cedo?, disse.
Com medo, a família que reside na mesma casa há 24 anos disse que vai deixar o local. Todos os envolvidos na ação policial registraram boletim de ocorrência e foram submetidos a exames de corpo de delito. Eles também disseram que irão denunciar a agressão na Corregedoria da Polícia Militar.
Outro lado
O porta voz da Polícia Militar, coronel Paulo Ferreira Serbija, afirmou que os três rapazes só foram detidos porque "interferiram na abordagem da polícia" ao condutor da moto e agrediram a equipe policial "com cadeiras e pedras".
O boletim da ocorrência relata ainda que um dos integrantes da família teria agredido um policial "com chutes e pontapés" na tentativa de retirar o irmão que havia sido algemado e colocado na viatura. Segundo a polícia, após a agressão, ele tentou se esconder na casa do tio e, por isso, segundo a polícia, o local foi invadido para fazer a detenção dele.
O documento não registra o tiro disparado, mas afirma que foi necessário o uso "moderado da força" e de algemas durante a detenção.
Serbija disse ainda que não está previsto no procedimento operacional da polícia a retirada da identificação da farda em "nenhum momento" e, que essa atitude dos policiais, também será apurada. Ele afirmou que nenhum dos moradores detidos tem passagem pela polícia e que o condutor da moto que estava sendo checada pela polícia aproveitou a confusão e fugiu do local.
Desde 2010, 116 policiais militares foram excluídos da corporação em Mato Grosso. Neste ano, quatro foram expulsos por envolvimentos em crimes e indisciplina.