Polícia prende doze suspeitos pela morte de grupo de 6 jovens

Doze pessoas já foram detidas em operação iniciada durante a madrugada

Da esquerda para a direita, a partir de cima, os jovens mortos na chacina: Patrick, Christian e Glauber; Josias, Douglas e Victor | Reprodução
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Doze pessoas haviam sido detidas até 12h desta terça-feira (11), em ocupação da favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, iniciada na madrugada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) e pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPChq).

A ação é realizada depois que os corpos de seis jovens de uma comunidade próxima foram encontrados, na manhã de segunda-feira (10). A polícia afirma que os criminosos também seriam responsáveis pelas mortes do pastor Alexandre Lima e de um aspirante a PM. Outra vítima, José Aldecir da Silva, está desaparecida.

Dez suspeitos foram presos em flagrante. Três tiveram os nomes divulgados. Ricardo Sales da Silva, de 25 anos, e Monica da Silva Francisco, de 20 anos, estavam com 433 papelotes de cocaína e 41 pedras de crack. Um homem identificado apenas como Beto Gorducho estava em uma casa com 50 gramas de cocaína e R$ 15 mil em espécie. Os suspeitos também foram encaminhados para a 53º DP, em Mesquista.

Dois menores foram detidos, um deles estava foragido de uma instituição para menores. Uma rádio pirata também foi achada na Chatuba. O dono foi levado para a delegacia para prestar esclarecimento.

Em nota, a polícia diz que foram desmanchados cinco acampamentos dos traficantes, um deles equipado com gerador de alta capacidade e um fuzil de fabricação alemã com uma luneta, adaptado para tiros de longo alcance.

No total, foram encontrados 933 papelotes, 320 cápsulas e 20 gramas de cocaína, 41 pedras de crack, 30 sacolés de maconha, uma faca, uma granada, um carregador de pistola, três coldres, um par de coturno, um cinto, duas mochilas, sete telefones celulares, uma máquina fotográfica, cinco baterias de telefone celular, um cordão, um lampião, uma rede de campanha e R$ 15.084, 50 em espécie. Um carro também foi recuperado.

Cerca de 250 policiais, entre homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Batalhão de Choque (BChoque), Batalhão com Cães, do Grupamento Aero Marítimo e da Coordenadoria de Inteligência, vasculham a Favela da Chatuba desde 1h15 desta terça-feira (11). Segundo o comando, a ação da polícia não tem prazo para acabar.

De acordo com o coronel Frederico Caldas, relações públicas da PM, até as 9h30 da manhã não havia ocorrido nenhum tipo de reação dos bandidos. "A partir dessa ocupação definitiva vai ser instalada uma Companhia Destacada, com efetivo de 112 policiais. É uma resposta imediata aos atos bárbaros que foram cometidos no final de semana", afirmou.

"O relato dos moradores é dramático. A convivência com esses marginais fazia parte da rotina deles. Essa ação é uma reconquista desse território e uma garantia de tranquilidade aos moradores", completou Caldas.

Segundo moradores que preferiram não se identificar, a chegada da polícia aconteceu em boa hora. "Moro aqui há 55 anos e a situação estava ficando cada vez pior. Espero que agora as coisas melhorem", disse uma moradora, ressaltando que tinha receio até de chegar ao portão de casa.

Segundo o coronel Caldas, as mortes expuseram uma realidade muito cruel que a região era submetida até agora. "Essa operação foi planejada no dia de ontem. Mobilizamos as nossas tropas especiais, pedimos o apoio do Corpo de Fuzileiros Navais, que disponibilizou quatro blindados, que foram fundamentais para a nossa entrada. Nosso objetivo é reestabelecer a ordem e acabar com essa ação tão nefasta desses marginais aqui nessa localidade", explicou o coronel.

Ainda de acordo com o relações públicas da PM, o setor de inteligência da Polícia acredita que os chefes do tráfico da comunidade que teriam ordenado os atos são Juninho Cagão, que seria o líder na região, Foca e Ratinho.

"Esses três certamente devem ter liderado essas execuções", disse Caldas, afirmando que a polícia já tem a descrição desses três criminosos e a informação de possíveis locais onde eles podem estar escondidos.

Na manhã desta terça, a polícia faz trabalho de revista e de aproximação com a comunidade para tentar chegar ao paradeiro dos traficantes. Policiais com cães farejadores também vasculham a área de mata da Chatuba em busca dos criminosos.

Ainda de acordo com Caldas, as informações obtidas através do Disque-Denúncia têm sido fundamentais para essa ocupação. Só na noite de segunda-feira (10) foram 12 ligações.

Chacina

Traficantes da Chatuba são suspeitos pelas mortes de pelo menos oito pessoas no último final de semana. Seis jovens, com idades entre 16 e 19 anos, desapareceram no sábado (8) quando foram tomar banho em uma cachoeira que fica próxima à Favela da Chatuba, em Mesquita, e também ao Campo de Gericinó.

Os corpos de Glauber Siqueira, Victor Hugo Costa e Douglas Ribeiro, de 17 anos, Christian Vieira, de 19 anos, e Josias Searles e Patrick Machado, de 16 anos, foram encontrados na segunda-feira (11) às margens da Via Dutra. Eles estavam lado a lado, enrolados em lençóis, nus, amordaçados e com sinais de facadas e marcas de tiro.

Os corpos estão sendo velados juntos, desde 1h desta terça-feira (11), em um ginásio municipal em Nilópolis. O enterro, inicialmente marcado para 10h, teve o horário mudado para 14h, no mesmo local, o Cemitério de Olinda, também em Nilópolis.

O irmão mais velho de Patrick Machado, um dos seis jovens assassinados, afirmou ao G1 na segunda (10) que os adolescentes foram confundidos com traficantes rivais aos da Favela da Chatuba. "Pegaram os garotos pensando que eram ?os alemão? (sic) invadindo a Chatuba".

"A gente foi até a Chatuba desenrolar com o gerente da boca de fumo da favela. Ele disse que os meninos foram confundidos com traficantes", contou o irmão, que não quis se identificar.

Ele disse que, na hora, não sentiu medo, e só queria saber onde estava o irmão menor. "Meu irmão estava sumido para o lado de lá, perto da favela. Então, eu fui buscar meu irmão", contou ele, que disse ter ido à Chatuba acompanhado de parentes dos outros jovens, e que não sofreu ameaças ou represálias dos traficantes. "Eles (os traficantes) não queriam ver a polícia invadindo a Chatuba", explicou o irmão.

Investigações

As investigações da polícia apontam para a participação de pelo menos 20 traficantes na chacina, segundo o delegado Júlio da Silva Filho, titular da 53ª DP (Mesquita). De acordo com o delegado, além do assassinato dos rapazes, os criminosos também seriam os responsáveis pela morte do pastor Alexandre Lima e de um aspirante a PM. A polícia também investiga o desaparecimento de José Aldecir da Silva, que acompanhava o pastor na comunidade.

O delegado disse que todas as mortes foram comandadas por Remilton Moura da Silva Júnior, conhecido como Juninho Cagão, chefe do tráfico de drogas na Chatuba. Ainda segundo a polícia, há a hipótese de o PM ter sido torturado na área do parque pelo grupo criminoso.

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