Dos postes, os gatos pularam para a rede. O crime que causa prejuízo de R$ 2,5 bilhões por ano somente na Região Metropolitana do Rio tem sido incentivado pela internet. Sites ensinam, com textos e vídeos em forma de tutoriais, maneiras para os clientes praticarem o furto e, segundo eles, economizarem nas contas. Mas o que parece apenas um truque inocente, pode custar caro: para a polícia, quem ensina ou faz gato de luz está sujeito até a prisão.
Numa pesquisa no Google com a pergunta "Como fazer gato de luz", aparecem pelo menos cinco páginas sobre o assunto. No primeiro vídeo, postado no Youtube, um homem explica como fraudar um medidor. Em dois minutos e oito segundos, ele mostra o aparelho e a gambiarra usada. "Esse aqui já está com o gato pronto. Notem que tem um arame aqui parando o relógio", detalha. As imagens foram postadas em 8 de janeiro do ano passado e, até a manhã desta sexta-feira, haviam sido vistas 176.570 mil vezes e comentadas por 116 pessoas. "O furo é simples. Quando eu retiro o arame, o relógio volta a funcionar", garante.
Em outro site, um rapaz que se identifica como técnico em eletricidade, eletrônica e informática, diz estar escrevendo o passo a passo depois de "muitos pedidos" de internautas. Ele, porém, expõe o risco que o criminoso corre: "virar churrasco humano". E adverte que, para economizar luz, o cliente deve adotar medidas como abrir menos a geladeira, tomar banhos mais rápidos e não deixar equipamentos ligados sem estar usando. O vídeo, entretanto, foi retirado do ar.
Em um portal de perguntas, uma pessoa desabafa: "Estou com um grande problema aqui em casa. A luz vinha R$ 80 e, desde que trocaram o relógio por um digital, a conta vem R$ 300." E pede ajuda: "Cansei de pagar conta absurda, quero fazer uma gambiarra, um gato". Em seguida, outros usuários da página oferece auxílio: "Entre em contato comigo. Sei tudo de relógio" e deixa seu email.
Para Alexei Vivan, presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE) e advogado especialista em energia, há uma ?aceitação social? ao gato de luz e incitação a essa prática acaba sendo uma consequência preocupante.
- Todo tipo de incentivo a um ato que é configurado como crime também é um ato criminoso. Essas páginas nos preocupam porque banalizam a ação do gato. Existe uma forma de olhar essa prática como se não fosse um crime e fosse socialmente aceito. Essa incitação precisa ser combatido e punido - explica.
O delegado Alessandro Petrolanda, da Delegacia de Serviços Delegados (DDSD) alerta que quem faz gato está praticando crime de furto, cuja pena varia de um a quatro anos de prisão. Se o sistema for rebuscado, a pessoa poderá ser indiciada por furto qualificado, com pena entre dois e oito anos.
Já o delegado Alessandro Thiers, da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) informou que a especializada auxilia a DDSD nas investigações sobre pessoas que ensinam como fazer gatos de luz pela internet. Inicialmente, elas podem responder por apologia ao crime e, constatado o furto, por furto de energia também. O delegado frisou que o registro pode ser feito em qualquer delegacia, mas, preferencialmente, na DDSD.