Polícia Civil investiga caso de abuso de autoridade e racismo em MG

Jovens dizem que foram agredidos durante três horas

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A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar denúncias de tortura e abuso de autoridade de policiais militares contra dois estudantes de Passos, no Sul de Minas. A investigação apura ainda a configuração de crime de injúria racial. Os jovens dizem que foram agredidos durante três horas e chamados de “macacos” pelos militares. Os oficiais, por sua vez, alegaram terem sido ameaçados pelas vítimas.

Vizinhos incomodados com o barulho de uma festa de uma República  chamaram a Polícia Militar para atender ocorrência de perturbação de sossego. Os militares dizem que foram recebidos com vaias e uma garrafa teria sido atirada contra eles. 

“Saí com meu primo e um amigo e encontramos outro colega, que nos falou dessa festa. A casa estava lotada e havia muita gente na rua, pois na casa não suportava todo mundo”, conta o estudante Reginaldo Santana Júnior, de 19 anos. Ele ainda afirma que, quando a polícia chegou, ligou para o pai, militar reformado, para buscá-los. O pai do adolescente chegou a conversar com os colegas de farda e, ao se assegurar que não haveria problemas, os jovens decidiram ficar mais alguns minutos. “Meu pai falou com um deles e assim que desliguei o  celular fui pegar minhas coisas para ir embora. foi quando arremessaram uma garrafa na viatura”, diz. 

De acordo com o jovem, eles estavam quase no fim da rua, quando o policial se aproximou com o giroflex desligado e em alta velocidade. Quatro policiais desceram do carro, sendo uma mulher, com arma em punho e ordenaram eles encostassem, já começando a bater em cada um com cacetete. Eles dispensaram um dos rapazes, e deixaram apenas Reginaldo e o primo dele, Pedro Paulo Júnior, de 21, estudante do curso de história. “Eles disseram ao meu amigo, que é branco: 'Vaza, sem olhar pra trás. Vamos deixar os dois macacos'”, relata. A partir desse momento, os primos começaram a apanhar, e ao serem questionados sobre o motivo da agressão, um dos militares respondeu que eles haviam jogado a garrafa e que bateriam neles “até virarem homens”. 

Pedro começou a apagar. “Falei que era filho de policial, meu irmão é agente penitenciário e que eu havia estudado no Colégio Tiradentes. Quando tentei ligar para meus pais, meu celular foi arremessado para dentro de uma casa. O dono saiu, com medo de a polícia nos matar. Com a lanterna no olho do homem, um policial disse que éramos ladrões e que acabávamos de cometer um roubo”, diz. Na tentativa de se libertar, Reginaldo virou bruscamente e acertou o braço de raspão no rosto de um militar. “Falaram que iam me matar. Não pensei em mais nada. Saí correndo e, ao me pegarem, me bateram até eu cair no chão e me algemaram”, afirma.

Os dois primos foram colocados dentro do camburão, e spray de pimenta foi jogado sobre eles. “Meu primo começou a passar muito mal, porque ele sofre de problemas respiratórios, aí o tiraram e, neste momento, minha mãe chegou”, conta Reginaldo. “Fico indignado, porque apanhamos sem ter feito nada. Os militares o conduziram Reginaldo até a unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Passos. 

O adolescente afirma que os policiais impediram o médico de examiná-lo e obrigaram o profissional escrever apenas o que os militares recomendasem. O médico de plantão confirmou a versão dos adolescentes horas depois na delegacia, o que fez com que o delegado responsável pelo caso, Felipe Capute, desconfiasse, já que ele mesmo percebeu que o rapaz estava muito machucado. Na delegacia, o jovem chegou a ser preso numa cela e o exame de corpo de delito foi pedido depois de seu depoimento. Para sair, o pai teve de pagar fiança. A família o levou ao pronto-socorro novamente, onde foi atendido por outro médico, que constatou as lesões. O pai de Reinaldo denunciou os militares no Batalhão. De acordo com os jovens, apenas a mulher não cometeu as agressões. Os outros três oficiais já teriam histórico de processos por agressão. 

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