Quatro meses depois de Claudia Silva Ferreira ser morta durante operação no Morro da Congonha, em Madureira, e arrastada por uma viatura por 300 metros na Estrada Intendente Magalhães ao ser socorrida, os seis policiais indiciados pelos crimes estão soltos e ainda trabalham em atividades administrativas na PM. Já a família da auxiliar de serviços gerais, cansada de conviver com a lembrança de Cacau baleada a poucos metros da porta de casa, deixou a favela.
No relatório final do inquérito, obtido pelo EXTRA, o delegado Carlos Henrique Pereira Machado conclui que o disparo que matou Claudia partiu da arma de um dos PMs. O tenente Rodrigo Medeiros Boaventura e o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno foram indiciados por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e fraude processual, por terem tirado o corpo de Claudia ? já morta, segundo a perícia ? do local do crime. Eles ficaram presos até o fim de abril, quando o prazo da prisão temporária expirou. Desde então, dão expediente, respectivamente, dentro do 3º (Méier) e do 41º BPMs (Irajá).
Já Adir Serrano Machado, Alex Sandro da Silva Alves, Rodney Miguel Archanjo e Gustavo Ribeiro Meirelles, responsáveis por colocarem o corpo de Claudia na mala da viatura e transportarem-no até o Hospital estadual Carlos Chagas, foram indiciados pelo crime de fraude processual. Eles seguem trabalhando internamente no 9º BPM (Rocha Miranda).
? Após ouvirmos todos os lados e realizarmos uma reprodução simulada no local, conseguimos esclarecer que havia uma troca de tiros entre um suspeito e dois policiais e Claudia passou na linha de tiro no momento dos disparos ? afirmou o delegado.
A promotora Isabella Lucas concordou com a decisão da Polícia Civil e pediu a transferência do processo do Tribunal do Júri para uma vara Criminal. Ainda esta semana, o juiz Murilo Kieling, da 3ª Vara Criminal, deve decidir se aceita a manifestação do Ministério Público.
? Diante de uma situação de stress, os PMs teriam agido com erro e não com dolo, porque, como são treinados para isso, deveriam ter mais cautela. Eles queriam acertar uma pessoa e acertaram outra ? disse a promotora.
Espera pela indenização
Somente um terço da indenização acordada entre o governo do estado e a família de Claudia foi paga. O acordo, intermediado pela Defensoria Pública do estado, foi dividido entre três núcleos da família. Os filhos e o viúvo receberiam uma parte, os quatro sobrinhos receberiam outra e a mãe e as irmãs de Cacau ficariam com outro terço. Até agora, só o pai e os filhos de Cacau receberam indenização. Com o dinheiro, eles compraram um imóvel de dois quartos na Zona Oeste, onde moram o viúvo Alexandre, os quatro filhos e mais quatro sobrinhos de Claudia.
? O acordo foi assinado em 9 de abril e a família concordou que era a melhor forma de ser indenizada. Um processo contra o estado iria demorar anos tramitando na Justiça. Agora é esperar a conclusão dos processos administrativos abertos pelo estado ? afirmou o defensor que representa a família, Francisco Horta Filho.