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PF investiga origem e se mais estados receberam bebidas com metanol

Seis casos foram confirmados, incluindo três mortes; dez ainda estão em análise

O metanol não se destina ao consumo humano e é altamente tóxico | Foto: Adobe Stock
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A Polícia Federal abriu uma investigação para apurar a origem do metanol usado para adulterar bebidas alcoólicas em São Paulo e verificar se há distribuição para outros estados. O anúncio foi feito nesta terça-feira (30) pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, diante do aumento incomum de intoxicações registradas nas últimas semanas.

"Na segunda-feira, determinamos ao dr. Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição que, ao que tudo indica, transcende o limite de um único estado", afirmou Lewandowski.

Casos em São Paulo

Até a noite de segunda (29), o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) confirmou seis casos de intoxicação por metanol no estado, incluindo três mortes. Outros dez seguem em investigação. Uma ocorrência foi descartada.

Entre os casos em apuração, estão quatro jovens, dois homens e duas mulheres, que passaram mal após consumir gin comprado em uma adega na Cidade Dutra, Zona Sul da capital. Um deles, Rafael dos Anjos Martins Silva, permanece internado na UTI há quase um mês após relatar fortes dores abdominais, vômito e perda de visão.

Outra vítima é Rhadarani Domingos, que ficou cega após beber caipirinhas de vodca em um bar no Jardim Paulista. Ela deixou a UTI na segunda-feira, mas segue internada.

As três mortes confirmadas são de homens de 58, 54 e 45 anos, moradores de São Bernardo do Campo e da capital paulista. A quarta morte investigada envolve um homem com histórico de etilismo crônico.

Como ocorre a adulteração

Segundo as autoridades, falsificadores compram garrafas de marcas conhecidas, como gin e vodca, e adulteram o conteúdo com metanol antes de revendê-las. Os sintomas da intoxicação podem levar horas para aparecer e incluem dores abdominais intensas e perda súbita da visão.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou a gravidade da situação:

"O país costuma ter 20 casos por ano de intoxicação por metanol. A partir de setembro, foi quase metade das notificações que costumam ter no ano e concentrado apenas em São Paulo, o que chama atenção."

Padilha classificou o cenário como “anormal” e anunciou que o ministério publicará uma nota técnica para orientar profissionais de saúde sobre sintomas e protocolos de atendimento.

Alerta nacional e fiscalização

O governo federal emitiu um alerta nacional após os primeiros registros. A Secretaria de Defesa do Consumidor também publicou uma nota técnica para bares, restaurantes e adegas, reforçando a atenção a rótulos e embalagens suspeitas.

Na segunda-feira (29), uma força-tarefa com policiais e equipes de vigilância sanitária fiscalizou bares na Mooca, Zona Leste, e nos Jardins, Zona Oeste da capital, além de uma adega na Zona Sul. No total, 117 garrafas de destilados sem rótulos foram apreendidas.

Suspeita de crime organizado

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que não descarta a participação do crime organizado na adulteração das bebidas, diferente do que havia dito o secretário de Segurança de SP, Guilherme Derrite (PL).

"A investigação dirá se há conexão com o crime organizado", declarou Rodrigues, lembrando que já foram identificados esquemas de importação de metanol pelo porto de Paranaguá, no Paraná, usados para abastecer cadeias ilegais de combustível.

A polícia segue apurando fornecedores, responsáveis pela manipulação das bebidas e a extensão da rede de distribuição.

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