Pai, madrasta e amiga suspeitos da morte de Bernardo são transferidos

O médico Leandro Boldrini, pai da criança, foi levado à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

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Os três suspeitos da morte do menino Bernardo, no Rio Grande do Sul, foram transferidos do presídio de Três Passos na madrugada desta quarta-feira (30). O médico Leandro Boldrini, pai da criança, foi levado à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Já a madrasta Graciele Boldrini foi transferida de Três Passos para Ijuí. Edelvania Wirganovicz também deixou a cidade e foi encaminhada para a Penitenciária Feminina de Guaíba. A informação é da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) do estado.

Bernardo foi encontrado morto no dia 14, enterrado em um matagal em Frederico Westphalen, no noroeste do estado, a cerca de 80 km de Três Passos, onde morava com a família. Ele estava desaparecido desde 4 de abril.

De acordo com o advogado Demetryus Eugenio Grapiglia, que defende Edelvania, o motivo das transferências foi a segurança dos três suspeitos. Graciele prestará depoimento à Polícia Civil, em Ijuí, ainda nesta manhã. Depois, ela será transferida para outro local, ainda não confirmado pela Susepe.

Também pela manhã, a Justiça não permitiu que o depoimento da madrasta fosse acompanhado pelo advogado de outros suspeitos. O pedido havia sido feito pelo advogado Jader Marques, defensor do médico Leandro Boldrini.

Perícia identifica sedativo em Bernardo

Na terça-feira (29), a Polícia Civil confirmou a presença de Midazolam no corpo do menino, conforme laudo do Instituto-Geral de Perícias. A investigação, no entanto, ainda não confirma se a substância foi usada na injeção letal apontada como causa da morte até o momento.

O medicamento Midazolam pode ser fatal se não for usado da maneira correta. O médico Luiz Fernando Menezes, gestor de anestesia do Hospital Mãe de Deus da capital explicou que o remédio, um "sedativo muito potente", requer a aplicação por um anestesista e o acompanhamento para evitar complicações, pois "deprime a respiração", ou seja, diminui a capacidade do paciente de respirar. O médico ouvido pelo sito em nenhum momento se manifestou sobre o crime, apenas em relação aos efeitos do medicamento.

"Em geral, [o Midazolam] funciona como agente indutor, induz a anestesia geral, tira a consciência do paciente em doses mais elevadas. Dependendo da dose, também deprime a capacidade respiratória. Pode levar à morte se o paciente não for assistido. O ideal é que seja aplicado por médicos treinados para sedação, no caso um anestesista", diz o médico.

A investigação da Polícia Civil aponta que a enfermeira Graciele Boldrini, madrasta do garoto, é suspeita de cometer o crime, junto com a assistente social Edelvania Wirganovicz e o pai do garoto, o médico Leandro Boldrini. Em depoimento, Edelvania disse que Graciele aplicou uma injeção letal no menino. Caso o medicamento tenha sido o Midazolam, a aplicação desobedeceu pelo menos duas recomendações sobre o uso da substância.

Segundo Menezes, não é recomendado que uma enfermeira aplique o medicamento. Além disso, ele deve ser usado em um local onde a respiração do paciente possa ser observada.

"Ele pode ser prescrito diretamente por um médico em uma unidade onde há a capacidade de fazer o monitoramento da respiração do paciente, como uma unidade de tratamento intensivo, uma sala de respiração ou uma unidade de centro cirúrgiuco", afirmou o médico.

O Midazolam pode ser aplicado com injeção na veia ? forma pela qual o efeito é mais potente ? ou no músculo, ou ainda em via oral. A pessoa medicada deve ser observada.

"Não posso simplesmente aplicar e virar as costas, deixar o paciente sozinho. Tenho de monitorar, ver os sinais vitais, a respiração e a função circulatória e respiratória, principalmente respiratória", destacou o especialista.

Não há restrições em relação à aplicação do sedativo em crianças e idosos, porém, ressalta o médico, nestes casos é preciso ter um acompanhamento mais próximo. Menezes diz ainda que a dosagem varia conforme a resposta do paciente.

"Há pacientes que se agitam, não dormem, ficam angustiados e agitados. É muito individual", afirmou.

Entenda

Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.

No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

"O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada", relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.

O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada Caroline Virginia Bamberg, responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.

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