De forma silenciosa, as mulheres estão ocupando posições até então especificamente masculinas no tráfico de drogas. Elas chegaram como uma alternativa para o transporte das ?mercadorias? e hoje são o principal meio de comunicação do tráfico - as chamadas mulas.
Para que o esquema do tráfico de drogas funcione precisa ter suas necessidades atendidas. E é exatamente aí que elas desempenham suas funções.
Há mulheres que trabalham cuidando dos traficantes, satisfazendo sexualmente os companheiros de ?boca?, pagam propina ao policiais, mas elas são especialistas mesmo em transportar drogas.
Isso porque são jovens, bonitas, discretas e pouco chamam a atenção da polícia. Para conhecer essa realidade, o Jornal Meio Norte foi até a Penitenciária Feminina à procura de histórias que revelassem o que levou adolescentes, mães de famílias e até avós a buscarem manter a vida através do tráfico de drogas. Relatos que nem sempre terminam com um final feliz.
O fato é que muitas mulheres estão sendo presas ou até mortas por causa do narcotráfico, deixando para trás os pais, filhos e uma vida digna. Prova disso é que na penitenciária feminina quase 35% das detentas estão ali por causa do tráfico de drogas.
Do total de 103 presas, 35 são traficantes. Há cinco anos, esse número praticamente inexistia porque a principal modalidades de crime entre mulheres até então era o homicídio passional.
De acordo com a diretora da penitenciária, Geracina Olímpio, há duas vertentes bem distintas de mulheres que fazem parte do tráfico de drogas. O diferencial está no que motivou cada uma entrar no jogo.
Há aquelas que traficam para garantir a sustento da família ou que foram aliciadas por companheiros. Do outro lado, meninas jovens, de baixa renda, vaidosas e atraídas pelo dinheiro fácil. Todas, no entanto, frutos de uma realidade social dura e desigual e iludidas pelo poderoso mundo do tráfico.
As mulas do tráfico são geralmente moças de boa aparência e jovens, que são aliciadas por traficantes para carregar drogas dentro de ônibus e chegam a ganhar entre R$ 500 e 1 mil por viagem. (o valor depende da distância e da quantidade de drogas) .
Valor que elas pagam com pena entre cinco e oito anos e meio de reclusão. Geralmente, as mulheres são exploradas por traficantes, pois despertam menos atenção dos policiais e costumam ser sentenciadas com uma pena menor. Mas, para quem não consegue escapar da polícia, os relatos são de arrependimento.
Silvaneide Silva Pereira, 30 anos, nunca experimentou drogas, mas foi conquistada pelo dinheiro fácil do tráfico. Ela atuava como mula desde os 18 anos e transportava maconha de São Paulo para vários Estados do Brasil. Foi presa no Piauí através de uma denúncia e há mais de dois anos que não vê a família. Sentenciada, ela deve permanecer ainda presa por mais dois anos.
No seu caso específico o arrependimento se deu pelo fato de o tráfico não compensar. Ela relata que trabalhou mais de dez anos como mula, mas o trabalho sempre foi desempenhado tranquilamente.
Geralmente, o esquema de transporte é o mesmo. A droga é levada dentro da parte de cima de um ônibus, onde não há fiscalização. ?No caso de drogas só há prisão quando há ?caguetagem?- quando outro traficante revela o esquema à polícia, mas não há fiscalização.
Trabalhei com isso por muitos anos e não há fiscalização. Eu andava com minha mochila entre policiais, mas como não está escrito na cara de ninguém que é traficante, ninguém me pegava?, diz Silvaneide ao destacar que foi presa através de uma denúncia.
Filha transformava casa de mãe em boca de fumo
Há um mês chegou à Penitenciária Feminina de Teresina uma senhora de 55 anos. Hipertensa e obesa, ela pouco consegue levantar da cama, fato que motivou a filha, usuária de drogas, a transformar a casa em uma boca de fumo. A mãe sabia da existência do comércio de drogas, mas não tinha forças para controlar a ação da filha.
Em uma operação da polícia, a boca de fumo foi estourada e a mãe da traficante foi presa ? a filha, que de fato era quem traficava as drogas, não foi encontrada pela polícia e está solta.
De acordo com Geracina Olímpio, mesmo impossibilitada de controlar a filha, para a Justiça a mãe foi conivente com tráfico de drogas e deve ser sentenciada. Na casa, foram encontradas 97 cabeças de pedras de crack junto com dinheiro.
Mulher vende comprimidos na Praça da Bandeira
A cena não levanta qualquer tipo de suspeita. Uma mulher sentada no banco da Praça da Bandeira, fica despercebida aos olhos das centenas de pessoas que passam diariamente pelo local. Mas, na verdade, algumas delas estão ali para comercializar remédios entorpecentes, como os conhecidos ?aranha? e ?rupinol?.
Os clientes já são conhecidos: garotas de programas que se drogam para suportar vários programas por noite e assaltantes que utilizam os entorpecentes para ?criar? coragem e sair às ruas roubando.
A., de 26 anos, começou a comercializar comprimidos aos 16 na Praça da Bandeira. Viciada em maconha e crack desde os 12, essa foi uma maneira fácil de conseguir dinheiro para manter o vício.
Cada unidade é vendida pelo valor de R$ 3,50. A venda média de três cartelas chega a render R$ 250,00. ?Era muito fácil. Eu passava o dia sentada e as pessoas que usavam, já sabiam quem eu era, encostavam e me compravam um comprimido.
Há várias mulheres que fazem isso?, diz C.A., que hoje está presa há um mês na Penitenciária Feminina.