Procurado desde a tarde de terça-feira (7) pela Polícia Civil de São Paulo, que está mobilizada para prendê-lo, Mizael Bispo de Souza, principal acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima, afirmou ao G1, em entrevista por e-mail intermediada por sua defesa, que lamenta não poder sair de seu esconderijo para participar nesta sexta-feira (10) da formatura escolar da filha mais nova em Guarulhos, na Grande São Paulo. O advogado e policial militar reformado também voltou a alegar inocência.
Mizael, que além da prisão preventiva decretada pelo juiz Leandro Bittencourt Cano foi levado à júri popular pelo assassinato de Mércia, respondeu às perguntas feitas sobre sua relação com a filha, que teve com a ex-mulher, a decretação da prisão e como está se sentindo tendo de se esconder para não ser preso.
Em nenhum momento, a reportagem falou, conversou ou esteve com Mizael. O advogado Ivon Ribeiro, que defende o réu, intermediou a entrevista, encaminhando a seu cliente as perguntas feitas pelo G1. Depois, consultado pela reportagem, o advogado enviou por e-mail as seguintes declarações como sendo de seu cliente:
?Hj lamentavelmente não poderei comparecer a formatura da minha filha, sou inocente, compareci a todos os atos do processo e por conta de um decreto de prisão, onde não existe nenhum fato novo para esta prisão, fico longe daqueles que precisam de mim.?
?Afirmo q não cometi crime nenhum, muito menos contra quem foi minha namorada por 4 anos e 2 meses, isto está mais do que provado no processo mesmo assim, não sei pq estão fazendo isso comigo. Continuarei me defendendo até o fim deste processo, não tenho medo da verdade e muito menos das mentiras que dizem de mim.?
As respostas atribuídas a Mizael foram reproduzidas na íntegra.
Recursos
Segundo os advogados de Mizael, ele não vai se apresentar à polícia. Na próxima semana, os defensores do réu pretendem impetrar dois recursos no Tribunal de Justiça de São Paulo. Um contra a decretação da prisão, pedindo que o acusado responda ao crime em liberdade. O outro vai contestar a sentença de pronúncia do juiz que determinou que o ex-namorado de Mércia seja levado a julgamento popular.
De acordo com Samir Haddad Júnior, outro advogado de Mizael, seu cliente está escondido na casa de pessoas conhecidas em Guarulhos.
Mizael tem 40 anos, é advogado, policial militar reformado, ex-namorado e ex-sócio de Mércia. Ele é apontado como o mentor do crime. Foi acusado de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Segundo o Ministério Público, ele matou a advogada por ciúmes, já que não aceitava o fim do relacionamento.
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A reportagem não localizou o advogado José Carlos da Silva, que defende Evandro Bezerra Silva, para comentar o assunto. O vigilante também teve a prisão preventiva decretada e foi mandado a júri, acusado de envolvimento na morte de Mércia. Evandro está foragido, mas quando falou à Justiça negou o crime.
Evandro, 39 anos, trabalhava como vigilante em feiras livres para Mizael, e teria ajudado o advogado a cometer o assassinato. Ele responde por homicídio duplamente qualificado (emprego de meio insidioso ou cruel e mediante recurso que tornou impossível a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. De acordo com o promotor Rodrigo Merli Antunes, o vigia foi denunciado como partícipe porque sabia das intenções homicidas de Mizael e aceitou colaborar com a prática do crime.
O caso
Mércia desapareceu da casa dos avós em Guarulhos, em 23 de maio, quando saiu de carro. Após a denúncia feita por um pescador, o veículo e o corpo dela foram encontrados por bombeiros em uma represa de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, nos dias 10 e 11 de junho, respectivamente.
Sentença
Na sua sentença, o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano seguiu o pedido de prisão do Ministério Público. No entender do magistrado, há ?indícios suficientes de autoria? de Mizael e Evandro no assassinato de Mércia, que são ?evidenciados pelas provas oral e documental?, para decretar a prisão deles. O magistrado relacionou, em sua decisão, ao menos 12 indícios da participação deles no crime.
De acordo com o promotor Rodrigo Merli Antunes, os acusados também constrangeram testemunhas e tentaram forjar provas. As defesas dos acusados devem entrar com recursos nas próximas semanas no Tribunal de Justiça de São Paulo contra a pronúncia dos réus e a decretação da prisão.
Não é a primeira vez que Mizael e Evandro têm a prisão decretada pela Justiça. O mesmo juiz chegou a determinar a preventiva deles em 3 de agosto. O advogado chegou a fugir e depois conseguiu a liberdade por conta de um habeas corpus do TJ-SP. O vigia chegou a ser preso em 9 de julho, quando afirmou que Mizael matou Mércia por ciúmes e falou que o ajudou a fugir da represa. Dias depois, revelou numa carta ao G1 que foi torturado por policiais para confessar um crime que não cometeu. Os desembargadores revogaram a prisão de Evandro em 9 de agosto.
Polícia Federal
A Polícia Federal também foi acionada para tentar ajudar a prender os acusados de matar Mércia Nakashima, afirmou o delegado Antonio de Olim, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na manhã desta quarta-feira (8). Segundo Olim, o objetivo da PF será o de vigiar aeroportos e fronteiras para impedir qualquer fuga do Brasil.
O delegado também declarou que vai prender quem ajudar os acusados de matar Mércia Nakashima a fugir. De acordo com o delegado do DHPP, além de Mizael, Evandro também estaria escondido em Guarulhos.