A violência volta a assustar os moradores do Conjunto São Miguel, em Messejana. No último fim de semana, entre a noite de sexta-feira (31) e ontem, três pessoas morreram após tiroteios nas ruas do bairro. Entre as vítimas dois adolescentes, Beatriz de Oliveira Ferreira, 13; e Paulo Rodrigo da Silva Ferreira, 15. Beatriz foi vítima de uma bala perdida, em frente a casa onde morava, às 10 horas de sábado. Menos de 12 horas depois, Paulo Rodrigo morria, segundo a Polícia, após trocar tiros com uma patrulha do Comando Tático Motorizado (Cotam) do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque).
Durante todo o fim de semana, o bairro foi ocupado por policiais militares da 2ªCompanhia do 5º Batalhão (Messejana), do BPChoque e das Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio). As patrulhas realizam incursões pelas ruas e becos do São Miguel na tentativa de localizar os responsáveis pela morte da adolescente Beatriz e de Antônio Soares de Sousa, 37, executado com 14 tiros, na Rua Lourdes Vidal Alves, no fim da noite da última sexta-feira (31).
De acordo com a Polícia, em uma dessas operações, realizada na noite de sábado, PMs do Cotam foram recebidos a bala por um grupo formado por quatro homens armados. Segundo o major PM Frederico, que estava na supervisão de Policiamento da Capital, entre a noite de sábado e a manhã de ontem, por volta das 21 horas de sábado, os policiais realizavam buscas no São Miguel quando foram surpreendidos pelos acusados na Rua Professora Raimunda Porfírio.
?Quando a patrulha entrou na rua, eles dispararam contra a composição. Houve troca de tiros e um deles foi atingido?, contou o oficial. Conforme Frederico, Paulo Rodrigo ainda foi levado para o Frotinha de Messejana, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Os outros três conseguiram fugir. Com a vítima foi apreendido um revólver calibre 32.
Durante todo o dia de ontem, os policiais continuavam a circular pelo São Miguel. Para alguns moradores, a presença da Polícia é importante, mas quando os PMs saem do bairro, os bandidos voltam a atuar, trazendo a insegurança para quem não tem ligação com atividades criminosas.
Tristeza
Além do medo pelos últimos confrontos, o clima na manhã de ontem no bairro também era de tristeza e desolação, principalmente para os parentes da adolescente Beatriz. Por volta das 10 horas, os pais ainda tentavam obter a liberação do corpo no Serviço de Verificação de Óbito (SVO), onde funciona temporariamente a Coordenadoria de Medicina Legal (CML) da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), antigo IML.
A reportagem do Diário do Nordeste foi até a casa da adolescente e conversou com alguns parentes. ?Foi muito rápido. Uma hora ela estava conversando aqui com a gente e depois no chão, sangrando?, disse um familiar.
A jovem, que cursava o 6º ano do ensino fundamental e ainda estava de férias, foi atingida em frente a casa onde morava, na Travessa Isabel, por uma bala perdida. O alvo dos assassinos seria outra pessoa que estava perto da casa.
Segundo testemunhas, os bandidos atiraram a uma distância de aproximadamente 30 metros. Um dos tiros atingiu o peito de Beatriz. Ela foi socorrida para o Hospital Gonzaguinha de Messejana pelo tio, foi transferida para o Instituto Doutor José Frota (IJF-Centro), onde faleceu.
EM 2009
Vinte mortes entre janeiro e agosto
A ?guerra? silenciosa que impera no São Miguel, em Messejana, já causou 20 mortes até ontem, segundo levantamentos feitos pelo Diário do Nordeste , com base nos registros de órgãos da Segurança Pública, como a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) e Coordenadoria de Medicina Legal (CML) da Pefoce. Em todo o ano passado foram 22 mortes.
As estatísticas deixam o São Miguel como um dos três mais locais mais violentos da Grande Fortaleza. Ali, nas ruas e becos estreitos ou até mesmo nas Avenidas que circundam o bairro, traficantes executam usuários de drogas que não pagaram, grupos rivais duelam pelo controle do tráfico de drogas e os cidadãos indefesos, ficam no meio do fogo cruzado.
Uma dessas pessoas, que pediu para não ser identificada, por temer a represália dos bandidos, conversou com a reportagem do Diário do Nordeste. Sentada em uma cadeira, na varanda da sua casa, com a filha de apenas cinco meses nos braços, ela fala baixinho, quase sussurrando. ?Estou aqui, mas queria estar do lado de fora com minha filha, mas tenho medo. Até aqui (na varanda) as vezes é perigoso. Pode acontecer um tiroteio a qualquer momento e uma bala bater aqui?.
De acordo com o major PM Océlio Alves, comandante da 2ª Companhia do 5º Batalhão (Messejana) o patrulhamento no São Miguel é feito por policiais nas viaturas comuns, em motos, cavalos e também a pé. ?As ruas estreitas dificultam o acesso e muitas vezes, os bandidos fogem pelas casas e não podemos invadir, mas para isso contamos com o patrulhamento específico?, ressalta. Segundo ele, além dos policiais da 2ª Cia/5ºBPM, o policiamento no São Miguel é realizado também pelo Ronda do Quarteirão, BPChoque e Raio.