Um estudo realizado pela Rede de Observatórios da Segurança revela que o Piauí e o Maranhão, estados vizinhos, registram juntos 11 casos de violência por dia ou um caso a cada três horas. A Rede de Observatórios começou a operar no Maranhão e Piauí em agosto de 2021 e divulga agora os resultados dos primeiros seis meses de monitoramento no boletim Retratos da violência: novos dados do Maranhão e Piauí.
Os dados, coletados por pesquisadores em seis meses de análise de informações produzidas por jornais, sites de notícias, grupos de WhatsApp e contas do Twitter, foram pauta de uma conversa durante a participação do ex-coordenador municipal de Segurança de Teresina, Nixon Frota, no programa Banca de Sapateiro, apresentado pelo jornalista Arimatea Carvalho.
Estudioso do assunto, o especialista em segurança que o estudo reforça o que já é notório na capital piauiense. “Os números vêm para confirmar a pandemia de violência que vivemos atualmente, o que diariamente é motivo de reclamação por parte da população”, relatou.
No levantamento dos pesquisadores da Rede de Observatórios, policiamento representa 59 dos eventos monitorados. Maranhão e Piauí somam juntos 1.210 eventos deste tipo, com 34 mortes (29 no Maranhão e 5 no Piauí) e 14 feridos nestas ações. “São números altos para o Piauí e muitos deles têm relação com guerra entre facções”, disse Nixon. Os dados mostram que 85% dos eventos de policiamento são operações policiais. Das 626 operações monitoradas no Maranhão, 461 foram realizadas pela Polícia Civil.
Eventos com armas de fogo e feminicídio aparecem na sequência – assim como nos outros estados da Rede. Também é importante destacar a vitimização de agentes de segurança. Enquanto o Maranhão registrou somente 4 vítimas, no Piauí monitoramos 22 eventos de violência – incluindo um suicídio. O estado do Piauí tem um dos menores contingentes policiais do país, com seis mil policiais e metade desse contingente na capital Teresina.
Além do policiamento
Tanto no Maranhão como no Piauí, uma mulher foi vítima de violência a cada 72h. Os números surpreendem ainda mais no Piauí por se tratar de um estado menor e com metade da população do Maranhão. Feminicídios e tentativas de feminicídios correspondem a 69% das violências cometidas contra as mulheres. A maior parte dos crimes foi cometida por companheiros e ex-companheiros. Brigas e términos de relacionamento são as duas principais motivações quando desconsideramos o alto número de casos em que a motivação não é informada.
O estado do Piauí também se destaca no número de meninas vítimas de estupro. Esse é o tipo de violência contra crianças e adolescentes mais recorrente nos dois estados. No total, são 53 casos desse tipo de violência no Piauí contra 27 no Maranhão.
São poucos os registros de violência contra a população LGBTQIA+ nos dois estados. O que pode refletir uma falta de interesse na imprensa local e das instituições de segurança pública. Mas, no Maranhão há duas peculiaridades: a maior parte dos crimes acontece no interior e todas as vítimas de LGBQTQIA+fobia são pessoas negras. Isso indica uma sobreposição de fatores de opressão sob essa população que sofre com o racismo e a violência homofóbica.