A mãe de Eliza Samudio, Sônia de Fátima Moura, viajará de Mato Grosso do Sul até Minas Gerais para acompanhar o júri popular que, a partir desta segunda-feira (19), vai julgar Bruno Fernandes de Souza, ex-goleiro do Flamengo, e mais quatro réus pela participação na morte e desaparecimento da modelo.
Em entrevista, ela disse estar ansiosa, sem conseguir comer nem dormir direito. "Eu esperei muito por esse momento. A minha esperança é que o Bruno e todos os outros réus sejam condenados. E que eles finalmente digam onde está o corpo da minha filha", afirmou Sônia.
De acordo com a denúncia, oito acusados, sob ordens de Bruno, participaram do sequestro e desaparecimento da modelo. O Ministério Público acusa o jogador de ter arquitetado o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Bruno e os demais envolvidos negam participação no caso, ocorrido em 2010.
Após o desaparecimento da filha, Sônia conseguiu a guarda provisória e, neste ano, a guarda definitiva do neto, Bruninho, filho de Eliza e do goleiro. "Bruninho é parecido com a mãe. Ela era linda, sorridente e muito perguntadeira. Ele tem as mesmas manias e pergunta tudo o tempo todo."
A mãe chorou ao rever fotos da filha Eliza. "É difícil, é uma ferida aberta que não vai fechar, infelizmente." Depois do crime, Sônia iniciou um tratamento com psicólogos. Ela disse que "não vai ser fácil" ficar "cara a cara" com os acusados pela morte da filha.
O advogado José Arteiro Cavalcante, que representa a mãe da modelo e ajudará o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro na acusação, acredita que Eliza está morta. A defesa de Bruno, no entanto, nega que tenha morrido. Na última semana, o advogado do goleiro, Rui Pimenta, lançou uma nova versão para o caso, dizendo que a jovem teria viajado para outro país e que estaria usando um nome falso.
"Isso é um absurdo. A Eliza lutou muito para que o filho nascesse, jamais abandonaria ele", defendeu Sônia. "É uma tentativa de manchar a imagem da Eliza. Mas eu pergunto: quem é o réu? Ele ou a Eliza? Eles querem julgar a minha filha que está morta?", questionou.
A pedido da defesa de um dos réus, a mãe de Eliza também será ouvida durante o júri. Sônia disse que embarcará, sem o neto, em voo que sai de Campo Grande para Belo Horizonte. Ela preferiu não divulgar a data da viagem.
Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial militar Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. O bebê Bruninho foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG).
Do total de nove acusados, dois serão julgados separadamente ? Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, teve o processo arquivado.
Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.
Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.
O julgamento
O júri popular do caso Eliza Samudio, marcado para começar às 9h desta segunda-feira (19), no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem (MG), será presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. Além do goleiro Bruno, estão no banco dos réus outros quatro acusados de participação: Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão; Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno; e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro.
Os réus serão julgados por um grupo de sete pessoas, formado por cidadãos maiores de 18 anos residentes em Contagem (MG), sem antecedente criminal ou parentesco com os acusados. Eles são sorteados um a um ao início da sessão entre 25 pessoas previamente escaladas. A juíza Marixa pediu também que suplentes estejam à disposição.
Ao todo, 30 testemunhas serão ouvidas ? cinco de acusação, que são ouvidas primeiro, e 25 arroladas pela defesa (cinco para cada réu). Não há limite de tempo para as oitivas. Cada testemunha é questionada pelo juiz, pelo promotor e pelos advogados de todos os réus.
Encerrada essa fase, que promete ser a mais longa, começa o interrogatório dos cinco réus, que têm o direito de permanecer em silêncio. Depois, acusação e defesa apresentam seus argumentos para tentar convencer os jurados de que os réus são culpados ou inocentes.
Por último, o júri se reúne em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pelo juiz com "sim" e "não". Eles decidirão se os réus cometeram o crime, se podem ser considerados culpados e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. De posse do veredicto, a decisão final dos jurados, a juíza dosa a pena com base no Código Penal, se houver condenação. Se houver absolvição, o réu deixa o tribunal livre.