A pequena Francisca Alice Silva Barreto, de 10 anos, que morreu depois de ser internada com suspeita de envenenamento após passar por um ritual de magia negra em um terreiro no interior de Timon, no Maranhão, em abril de 2016, morreu vítima de uma pneumonia, e não por intoxicação, como era suspeitado, conforme o laudo pericial, divulgado na quarta-feira (25).
De acordo com o laudo, do Departamento de Polícia Técnico-Cientifica (DPTC), a criança foi vítima de estupro e morreu devido uma pneumonia não tratada, que causou uma infecção generalizada. "As bactérias da infecção que se criou podem ter se espalhado pelo corpo da criança, causando essa infecção", disse Antônio Nunes, diretor do DPTC.
De acordo com a Conselheira Tutelar Socorro Arraes, o laudo apontou pneumonia, mas, segundo ela, a criança não foi tratada por apresentar quadro desta doença.
“Houve o abuso contra a criança, que tinha 10 anos. No laudo, tem que ela morreu de uma pneumonia, que não foi tratada, provocando uma infecção generalizada. O laudo pericial foi divulgado e diz isso. O meu pensar é: durante esse período em que ela esteve no hospital, por qual motivo essa pneumonia não foi tratada? O laudo saí que ela morreu de uma infecção e, então, em nenhum momento ela foi tratada por estar com uma possível pneumonia? Eu tenho essa interrogação, e não querendo tirar o mérito da polícia", questionou.
Segundo a conselheira, existia suspeita de envenenamento devido o levamento inicial, que levou em conta a situação em que a criança deu entrada no hospital. "A principio se tinha uma leve desconfiança, do próprio hospital, que disse que ela entrou com diagnóstico possivelmente de venenamento, babando e com outros sinais. O próprio hospital pediu o liquido e mandou para pericia, que agora realizou exames e mostrou que não havia intoxicação", acrescentou.
Os laudos constataram que a criança foi vítima de abuso sexual. “Ela foi vítima de estupro de vulnerável. Quem praticou cabe a polícia investigar. Todo o encaminhamento, exames e procedimentos necessários foram feitos pelo Conselho Tutelar", informou.
Laudo descarta envenenamento
O laudo descartou a possibilidade de envenenamento. A "garrafada" da qual a criança ingeriu não tinha presença de material tóxico. No início, entretanto, essa hipótese foi assegurada pelos médicos. O diretor do HUT, Gilberto Albuquerque, durante entrevista na época, chegou a afirmar que houve envenenamento.
A pediatra Francisca Moreira, do HUT, também chegou a suspeitar de envenenamento, visto o quadro de saúde da criança.
“Eu tive contato com o pai pela manhã e a mãe logo em seguida chegou. Ela [a mãe] me falou que havia dado essa substância para a criança e havia jogado o frasco fora. A criança chegou com as enzimas empáticas bastante alteradas, que é característico de intoxicação. Em alguns casos, altera a função renal, inclusive, eu a transferi com mais pressa, porque o o rim dela [da criança] encontra-se em falência. Ela estava sem diurese e passou 12 horas com apenas 75% de diurese", disse, na época.