O estoquista Fabricio Proteus Chaves, 22, baleado por policiais militares durante o protesto contra a Copa, no último sábado, disse em depoimento à Polícia Civil que levou um tiro antes de sacar um estilete que tinha no bolso.
A versão é diferente da apresentada pelos policiais. Os PMs dizem que o primeiro tiro foi disparado só após Fabrício tentar atacar um deles com o estilete.
O episódio ocorreu em Higienópolis, quando os jovens deixaram a manifestação.
Fabrício, que foi atingido na região genital e no ombro, continua internado na Santa Casa. Ele foi ouvido no leito do hospital. Por estar com o braço paralisado, não conseguiu assinar o depoimento, mas deixou suas digitais gravadas no documento.
O conteúdo do depoimento foi relatado à Folha por fontes da polícia e confirmado pelo defensor público Carlos Weis, que dá assistência jurídica à família do rapaz.
Segundo o defensor, Fabrício agiu em legitima defesa, após levar o tiro.
O rapaz nega que carregava artefatos explosivos em sua bolsa, de acordo com o defensor. Ele afirma que as bombas, feitas com latas de cerveja, pertenciam a Marcos Salomão, jovem que foi rendido pelos policiais na rua da Consolação junto com Fabrício.
Em seu depoimento, Salomão disse que se rendeu imediatamente, mas que Fabrício decidiu fugir.
Ele confirma que estava com os artefatos e diz que os carregava para se proteger dos "atos da Polícia Militar". A polícia diz que Fabrício também portava os explosivos.
Segundo o delegado titular do 4º DP (Consolação), José Gonzaga Da Silva Marques, os indícios apontam para reação em uma legítima defesa dos PMs. Fabrício responde a inquérito por desobediência, desacato e resistência.
FAMÍLIA
A família do jovem diz que Fabrício não é agressivo e que participava de manifestações desde junho do ano passado de maneira pacífica.
Para o delegado, está comprovado que Fabrício era um manifestante e que ele estava nos protestos que acabaram em vandalismo nas regiões da Consolação e Praça Roosevelt.
"Ele reagiu à ação policial e estava numa condição de resistência. Em princípio, não é possível dizer que tenha havido excesso dos policiais", disse o delegado.
Após a investigação policial, o inquérito será encaminhado ao Ministério Público, que pode concordar ou não com as conclusões da polícia.
O delegado diz entender que os PMs não se excederam. "Se eles tivessem dado dez tiros era excesso. Eles deram um. E homicídio tentado não tem socorro. Os policiais socorreram", disse.