A abertura do segundo dia de julgamento de Lindemberg Alves Fernandes - acusado pela morte da ex-namorada Eloá Pimentel, após mais de 100 horas de cárcere privado em outubro de 2008 - começou com a audiência do policial militar Ronickson Pimentel dos Santos, irmão da vítima. Ele classificou o réu como "monstro, louco e agressivo", na uma hora em que respondeu as perguntas da juíza Milena Dias, da promotoria e da advogada de defesa de Lindemberg.
Nos momentos em que o irmão falava diretamente sobre Eloá, ele se emocionou e chegou a chorar. Em diversas ocasiões, Santos disse que Lindemberg teve uma personalidade inconstante, o que provocava sofrimento em sua irmã.
"Ele era muito ciumento. A minha irmã nunca viveu a vida dela. Estava sempre com ele. Nunca vi ela sair com amigos, ir a um shopping. Não sei se era ele que não deixava ou ela não ia para não magoar ele", disse.
Santos disse que não concordava com o namoro, que na visão dele "não tinha futuro". "Minha irmã vivia chorando pelos cantos e eu não concordava com algumas amizades que ele tinha. As brigas entre os dois eram constantes. A gente se tolerava", afirmou.
O irmão conta que os dois se viam apenas de vez em quando, já que nos três anos em que ambos namoraram, ele vivia no Rio de Janeiro, onde era fuzileiro naval.
"Certa vez ele me ligou para que eu ajudasse os dois a reatarem o namoro. E quando ele estava com ela no apartamento, durante o cárcere, ele me cobrou isso, dizendo que eu não ajudei", afirma.
Santos lembrou que o crime acabou com a vida de sua mãe, Ana Cristina Pimentel. "Ela passa os dias chorando no quarto, tomando remédio, sempre que lembra sobre o que aconteceu, fica depressiva", diz.
Segundo ele, a família era considerada "feliz" e agora há um esforço para reconstruir esse cenário. "Estamos lutando por isso. Eu fui pai há sete meses e meu filho trouxe de volta alguma alegria".
Mesmo depois do que aconteceu, Santos confirmou que foi padrinho de casamento de um sobrinho de Lindemberg, de quem era amigo antes do namoro entre o réu e sua irmã.
O mais longo cárcere de SP
A estudante Eloá Pimentel, 15 anos, morreu em 18 de outubro de 2008, um dia após ser baleada na cabeça e na virilha dentro de seu apartamento, em Santo André, na Grande São Paulo. Os tiros foram disparados quando policiais invadiam o imóvel para tentar libertar a jovem, que passou 101 horas refém do ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes. Foi o mais longo caso de cárcere privado no Estado de São Paulo.
Armado e inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg invadiu o local no dia 13 de outubro, rendendo Eloá e três colegas - Nayara Rodrigues da Silva, Victor Lopes de Campos e Iago Vieira de Oliveira. Os dois adolescentes logo foram libertados pelo acusado. Nayara, por sua vez, chegou a deixar o cativeiro no dia 14, mas retornou ao imóvel dois dias depois para tentar negociar com Lindemberg. Entretanto, ao se aproximar do ex-namorado de sua amiga, Nayara foi rendida e voltou a ser feita refém.
Mesmo com o aparente cansaço de Lindemberg, indicando uma possível rendição, no final da tarde no dia 17 a polícia invadiu o apartamento, supostamente após ouvir um disparo no interior do imóvel. Antes de ser dominado, segundo a polícia, Lindemberg teve tempo de atirar contra as reféns, matando Eloá e ferindo Nayara no rosto. A Justiça decidiu levá-lo a júri popular.