Em 24 de junho de 2013, o nome de Rodrigo Souza dos Santos, 30 anos, apareceu na relação dos aprovados na Pesquisa Social e Documental para ingresso na Polícia Militar. Um mês depois, mais uma boa notícia para Rodrigo: a lista de recrutamento foi divulgada e, novamente, seu nome estava lá. Nos primeiros dias de curso, em julho, o aluno aparece em foto formado com seus colegas no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), em Sulacap. Entretanto, o novo recruta da PM era investigado pela 33ª DP (Realengo) desde dezembro de 2011: Rodrigo é apontado como chefe da milícia do Morro Cosme e Damião, localizado a pouco mais de um quilômetro de distância do Cfap.
O inquérito foi concluído em maio - dois meses antes de Rodrigo começar o curso - e teve como resultado o pedido de prisão preventiva pelos crimes de extorsão e formação de quadrilha. Atualmente, o caso está na Justiça. Somente em 2 de setembro do ano passado a PM comunicou em seu boletim interno que voltou atrás na aprovação de Rodrigo e sua ?condição passou de ?aprovado? a ?reprovado? na Pesquisa Social?.
Ao longo das investigações, a polícia apreendeu um livro de anotações da milícia em que estavam registrados nomes de moradores que pagariam pelo ?serviço de segurança? o valor de R$ 20 mensais. Dezenove pessoas foram localizadas e relataram que o grupo criminoso, autointitulado ?Amigos Unidos?, mantinha o domínio sobre a favela à base de extorsões, ameaças de morte e assassinatos.
Em depoimento, uma testemunha contou que ?teve sua casa invadida pelos bandidos, que violentaram sexualmente sua esposa? e que ?foi ameaçado de morte caso levasse adiante? a comunicação de extorsão feita à polícia. Após a expulsão do Cfap, Rodrigo não foi mais visto.
Segundo relatório assinado pelo delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, o grupo de milicianos do qual Rodrigo é chefe ?nos impressiona com atos de panfletagem de serviços e propaganda, em verdadeira exteriorização do mais profundo sentimento de impunidade?. O delegado pediu a prisão de outros três suspeitos de integrar da milícia: Anderson Luiz dos Santos, Renan Campos Nunes e Everaldo Mota de Oliveira.
Um dos depoimentos de um morador da favela Cosme e Damião revela que os milicianos usam uma espingarda calibre 12, um fuzil e pistolas para manter o controle sobre a região. A mesma testemunha afirma que o grupo é ?aliado de Batman?, o ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, preso desde 2009 sob a acusação de comandar uma das maiores milícias da Zona Oeste.
Segundo informações do inquérito, os milicianos usavam a associação de moradores da favela como QG. No local, a polícia apreendeu uma pistola 9mm, munição e coletes à prova de bala. Os pagamentos também eram feitos na associação ou a um funcionário.
Rodrigo foi chamado para prestar depoimento em dezembro de 2011. Na ocasião, seu carro havia sido apreendido na comunidade com as portas abertas. Ele negou ser miliciano e informou que foi à favela levar sua mulher à casa de uma costureira.
Batalhão de Bangu pesquisou o aluno
O batalhão responsável pela pesquisa social que aprovou Rodrigo foi o 14º BPM (Bangu), responsável por patrulhar a área onde atua a milícia da Cosme e Damião. Procurada para explicar o motivo da aprovação de Rodrigo, apesar de investigado por ligação com uma milícia da região, a PM explicou que o primeiro informe de fatos ilícitos referente ao então candidato só foi anexado a sua ficha em 8 de agosto. Segundo nota da corporação, ?uma denúncia anônima motivou a reabertura das investigações ao candidato, colhendo fatos que culminaram por reprová-lo?.
Ainda de acordo com a PM, a investigação da Polícia Civil, que começou em dezembro de 2011, só ?veio ao conhecimento da administração após a incorporação do candidato. Até o momento da conclusão da Pesquisa Social do candidato, não se vislumbrava qualquer motivo que pudesse reprová-lo?. O texto também sustenta que o documento da 33ª DP informando que o candidato era investigado só foi impresso no dia 10 de setembro, portanto após a exclusão de Rodrigo.
A nota também informa que foram feitas consultas ao banco de dados da Polícia Civil, ao Portal da Segurança e às Justiças Federal e estadual ? todas elas sem resultados negativos para o então candidato. Entretanto, a primeira vez em que Rodrigo é apontado como chefe da milícia nos registros da Polícia Civil data de 6 de janeiro de 2012, quando um morador da favela Cosme e Damião fez o reconhecimento do acusado por foto. Antes, somente seu apelido, Rodrigão, constava nos registros.