As provas do Enem 2025 aplicadas na Grande Belém, no último domingo (7), trouxeram ao menos quatro questões de matemática e de ciências da natureza praticamente idênticas a itens que já haviam sido divulgados em apostilas e grupos de WhatsApp antes da realização do exame. As perguntas haviam sido antecipadas pelo estudante de medicina Edcley Teixeira, de Sobral (CE), por um monitor parceiro e por materiais de autoria ainda não confirmada. Mesmo diante das semelhanças, o Inep informou que mantém o entendimento de que nenhum candidato foi favorecido.
Questões idênticas em exatas
Das quatro questões identificadas, duas estavam em apostilas produzidas por Edcley Teixeira, que já é investigado pela Polícia Federal. Uma terceira havia sido divulgada por Eduardo Vasconcelos, monitor e parceiro do estudante, que apagou os próprios perfis nas redes sociais após a repercussão do caso. A quarta foi enviada por alunos que se identificam como “mentorados” de Eduardo, mais de uma semana antes da prova no Pará.
Entre os exemplos, estão questões sobre cilindros, reajuste de preços, excretas e vacinas. Em alguns casos, os números, as contas exigidas e até as alternativas apresentadas eram exatamente os mesmos. As diferenças se limitaram ao formato da pergunta, como a inversão de razões matemáticas ou a forma de apresentação das respostas.
QUESTÃO DE EDCLEY:
QUESTÃO DO ENEM DE BELÉM:
Como as perguntas foram obtidas
Segundo foi revelado, Edcley Teixeira identificou que uma prova aplicada pela Capes, voltada a estudantes do primeiro ano da graduação, funcionava como um “pré-teste” do banco de questões do Enem. A partir disso, ele passou a pagar para que alunos realizassem a prova, memorizassem o conteúdo e repassassem os itens a ele. Em seguida, o material era comercializado.
Na aplicação principal do Enem, realizada em novembro, oito questões já haviam sido antecipadas pelo estudante. Na ocasião, o Inep anulou apenas três perguntas, mantendo a posição de que a igualdade de conteúdo não resultou em prejuízo aos demais candidatos.
Por que Belém teve prova em data diferente
A aplicação do Enem na Grande Belém ocorreu em datas diferentes do restante do país por causa da realização da Conferência do Clima (COP30), que aconteceu na capital paraense na primeira quinzena de novembro. Por esse motivo, candidatos de Belém, Ananindeua e Marituba fizeram as provas nos dois domingos seguintes às datas oficiais.
Na primeira semana de reaplicação, voltada às provas de Ciências Humanas, também foram identificadas semelhanças entre questões do exame e materiais divulgados anteriormente por Edcley. No entanto, diferentemente do que aconteceu nas áreas de exatas, as coincidências foram consideradas menos explícitas.
Semelhanças também em Humanas
Em Ciências Humanas e Linguagens, as semelhanças envolveram temas próximos, recursos visuais semelhantes e palavras em comum. Um dos exemplos envolve uma charge sobre “13 anos” na escola, com situação-problema praticamente idêntica à de conteúdos divulgados anteriormente, inclusive em simulados de cursinho e em um perfil do Instagram.
Outro caso envolveu a tradução de obras da literatura universal para línguas indígenas. Na reaplicação do Enem do Pará, a questão apareceu em espanhol e citava diferentes livros, como “O Patinho Feio” e “O Pequeno Príncipe”. Já na apostila de Edcley, o tema era tratado apenas a partir do “Pequeno Príncipe”, em português.
Inep mantém posição e PF investiga
Apesar das semelhanças, o Inep segue afirmando que nenhum candidato foi beneficiado. A Polícia Federal continua apurando como os materiais foram obtidos e disseminados antes das provas. Para os candidatos que prestaram o Enem na capital paraense, a principal queixa é a quebra de isonomia, especialmente nas disciplinas de exatas, onde a repetição de números e alternativas torna a coincidência altamente improvável.
A investigação deve definir se houve acesso irregular ao banco de questões do exame e se haverá novas anulações ou consequências jurídicas para os envolvidos.