Os moradores dos conjuntos Sigefredo Pacheco I e II, localizado dentro do Bairro Vale do Gavião, zona Leste de Teresina, convivem com o medo. A insegurança da região é tanta que os moradores vivem acuados, e andam nas ruas esperando os inevitáveis assaltos. De acordo com relatos, os bandidos agem de maneira ousada, inclusive à luz do dia. A principal causa apontada para essa onda de violência é a presença de matagais ao redor das casas, o que contribui para a fuga e ação dos meliantes.
O comerciante Antônio Sousa, por exemplo, já teve o seu comércio assaltado duas vezes, a mão armada. “A primeira vez foi por volta 15h, chegaram armados e pediram para entregar tudo. Na segunda vez foram quatro assaltantes. A sensação é de impunidade, porque você passa o dia trabalhando e chega um ou dois e levam tudo o que você tem”, relata. Antônio, que acredita que o mato localizado no entorno de seu comércio facilita a ação dos bandidos: “Eles roubaram aqui e entraram nesse mato. Por trás desse mato tem uma avenida, eles fogem por lá”, aponta o comerciante.
Outra questão levantada pelos moradores é o abandono por parte das autoridades e, principalmente, da polícia, que se mostra ineficaz no atendimento à população. A também comerciante Jucélia Martins diz que a região precisa de uma delegacia: “Não tem delegacia para registrar ocorrência. Já não temos ônibus, somos assaltados e ficamos sem dinheiro, como vamos registrar queixa em outro lugar? Falta um local para que possamos pedir auxílio numa hora dessas. Não temos com quem contar nesse momento”, afirma.
A moradora Girlene Prado, que relata ter sido assaltada na porta de casa, diz que os bandidos agem de moto: “A moto aparece do nada, com duas pessoas. O de trás desce, aborda com arma e a gente não pode fazer nada.
É um desespero. E fica por isso mesmo, porque ninguém vai atrás”, conta a senhora. Ela diz que usar o transporte público também é um perigo, pois os bandidos esperam a chegada das pessoas na parada de ônibus: “A gente já desce do ônibus correndo para casa. Eles ficam esperando, parece que eles vêm acompanhando os ônibus cheios”, diz Girlene. “Desceu aqui na parada de ônibus, se for um estudante que eles já sabem que tem um celular, eles não perdoam”, complemente Jucélia Martins.
Os moradores dizem que essa situação se arrasta desde a entrega das casas à comunidade, há quatro anos, e que nunca foi feito nada para resolver o problema. As casas dos conjuntos Sigefredo Pacheco I e II foram construídas a partir de recursos do Governo Federal, através do programa Minha Casa, Minha Vida.
Quadrilha é responsável pela violência, diz PM
Segundo o coronel Raimundo Sousa, comandante do 5º Batalhão de Polícia Militar do Piauí, os bandidos que assaltam os moradores dos conjuntos Sigefredo Pacheco I e II formam uma quadrilha, que atua não só no Vale do Gavião, mas também em outras localidades da zona Leste: “Estamos fazendo um trabalho de investigação, e identificamos quais são as pessoas que estão fazendo os assaltos. É questão de tempo para colocarmos a mão neles”, declara.
De acordo com o comandante, a quadrilha possui dirigentes e uma rota de fuga específica: “É uma quadrilha que tem chefe, coordenador e dinheiro para bancar advogado. As motos são alugadas na Santa Bárbara, vão para o Vale do Gavião e eles fazem os assaltos. Depois eles voltam por trás do Árvores Verdes”, afirma o coronel Raimundo Sousa.
Quanto ao policiamento da região, o coronel reconhece que talvez a demanda seja maior que o pessoal, mas que a polícia tem trabalhado ostensivamente para deter a ação dos bandidos. Na região, três viaturas – do Ronda Cidadão, CANIL e do 5º Batalhão – e três motoqueiros assistem os moradores do Bair-ro Vale do Gavião.
Presidente da Associação cobra ação da prefeitura
Na manhã de ontem o presidente da associação dos moradores dos conjuntos Sigefredo Pacheco I e II, Antônio Marcos, foi à SDU/Leste cobrar ações da prefeitura no que diz respeito a uma série de problemas do bairro. Dentre eles, a questão dos matagais que funcionam como rota de fuga dos assaltantes. “O Vale do Gavião é uma área de vegetação verde. Existem muitos lotes que ficam com matos, e eles [os marginais] se aproveitam dessa mata para fazer coisas ruins”, diz Antônio.
O processo de limpeza desses matagais já iniciou, mas ainda existem muitas áreas que ainda precisam ser podadas.
De acordo com Ronney Lustosa, superintendente da SDU/Leste, já foi autorizada a limpeza desses matagais, mas é necessário analisar com cuidado quais as áreas que podem ser cortadas: “Deve haver a diferenciação entre mato e vegetação nativa”, finaliza Ronney.