O mês de janeiro ficou marcado em Teresina como sendo um dos mais violentos dos últimos tempos na capital piaueinse. Até a noite de sexta-feira (31/01) haviam sido registrados 45 homicídios na capital, índice que deixou a população assustada e ligou o sinal de alerta das autoridades de segurança pública. Na grande maioria dos casos, os crimes estão diretamente ligados a disputas do tráfico de drogas.
O titular da Delegacia de Homicídios, delegado Francisco Costa (Baretta), falou sobre essa realidade. ?A onda de homicídios está acontecendo não porque não se chega à autoria desses crimes, até porque em 70% dos casos nós conseguimos identificar o autor?, diz o delegado, esclarecendo que a Homicídios, hoje, só fica com os crimes de autoria desconhecida. Quando o autor é conhecido, nos dez primeiros dias o caso é encaminhado ao delegado geral e, de lá, para o distrito correspondente.
Hoje, o combate aos assassinatos em Teresina passa por duas grandes dificuldades. A primeira é o fato de que os crimes estão acontecendo de forma pulverizada por toda a capital ? embora algumas áreas ainda apresentem mais casos, como a zona sul, que ainda é a campeã de crimes de morte, sobretudo a região do grande Promorar, mas áreas de atuação do 3º, 4º, 10º, 13º e 23º DPs. Em segundo lugar aparece a zona Sudeste, nas áreas do 5º, 8º, 21º e do 24º Dps.
Outra grande dificuldade é a reincidência de quem mata. Para explanar esse ponto, o delegado falou do caso de um homem identificado como Júlio César, originário da região do Parque Universitário, e que foi preso recentemente.
Baretta aponta que Júlio comete assassinatos desde que era adolescente, tendo passado pela Divisão do Menor e pelo CEM (Centro Educacional Masculino).
?Ele continuou matando quando se tornou maior de idade. Desde que a delegacia de homicídios foi inaugurada, em 23 de janeiro do ano passado, já recebemos aqui cinco casos de homicídios com envolvimento dele. Agora, o juiz determinou a prisão e nós cumprimos. Espero que ele passe muito tempo preso. Quando fomos cumprir o mandado de prisão, o encontramos vendendo grande quantidade de crack e portando um revólver calibre 38 com numeração raspada?. O rapaz encontra-se na Casa de Custódia.
Baretta aponta ainda que o assassinato é o tipo de crime com maior clamor público, e que acaba despertando mais atenção por conta desse fator. ?O corpo de servidores da delegacia é muito bom e temos solucionado a autoria dos crimes na maioria dos casos, mas isso não é o bastante. O grande problema é a prisão. Quando o indivíduo não é preso, a sensação que fica é a da impunidade?.
A criação da Central de Inquéritos pelo Corregedor Geral de Justiça, desembargador Paes Landim, é apontada pelo delegado Francisco Costa como um grande passo no sentido de facilitar o trabalho da polícia judiciária. ?Hoje nós temos uma delegada fazendo a intermediação entre as nossas representações e o juiz, que faz a análise, manda o caso para o Ministério Público e devolve com a respectiva decisão?.
?Essas operações serão rotineiras?
No dia 23 do mês de janeiro a operação Tanatos prendeu seis pessoas ligadas à prática de homicídios e do tráfico de drogas na capital. A operação foi realizada justamente para fazer frente à onda de mortes em Teresina e, segundo o delegado Baretta, esse trabalho vai continuar com novas investidas.
?Fizemos esta operação no fim de janeiro e estamos planejando outra para entrar em execução nos próximos dias.
Nossas operações vão ser rotineiras, serão surpresa apenas para os bandidos. Estamos recebendo alguns mandados de prisão preventiva e outros de busca e apreensão, além de mandados de prisão temporária. Já iniciamos reuniões com a Polícia Militar através do Comando de Policiamento da Capital para realizar um trabalho conjunto?, completou o delegado.
Ao tempo em que cita o trabalho realizado, o titular da Delegacia de Homicídios também lamenta as dificuldades enfrentadas no combate ao crime. ?Estamos tendo um alto índice de resolubilidade dos casos, mas temos deficiências, como vários outros órgãos. No final do ano passado eu vi vários debates na imprensa sobre orçamento, mas não observei nenhuma voz defendendo fortes investimentos em segurança pública. Além disso, é preciso ressaltar que o Piauí não é produtor de armas de fogo e nem de drogas. O tráfico e o crime estão se fortalecendo porque nossas fronteiras estão abertas?, completou o delegado.
Vida humana perde o valor no mercado da droga
O tráfico de drogas não está por acaso no cerne desta onda de assassinatos na capital do Piauí. Quem está inserido no comércio de entorpecentes passa a viver em outra realidade, com suas próprias regras, onde os valores são totalmente subvertidos. ?O usuário de drogas acaba perdendo a noção do valor da própria vida e da vida do outro?, resume o psicólogo Renato Mendes.
?Eles só querem saber como vão conseguir mais drogas, e não importam os meios. Não observam limites e o próprio risco de morrer. É diferente do contexto de uma pessoa obesa ou de alguém que sofre com problemas cardiorrespiratórios, por exemplo, que sabe que tem um problema e procura ajuda?. O psicólogo aponta ainda que o uso de drogas prejudica o aspecto cognitivo, levando a um comprometimento psicológico. ?E quanto maior o uso, maior o dano aos aspectos cognitivos?, aponta Mendes.
Os adolescentes, em pleno processo de amadurecimento, são as presas mais fáceis. Começam sendo influenciados pelos amigos e colegas. O passo seguinte é começar a tirar pequenas coisas de casa, para vender e comprar os entorpecentes.
?Hoje, a questão das drogas está totalmente fora de controle, e se buscarmos o âmago dessa realidade vamos encontrar as falhas no aspecto familiar. Hoje os pais são péssimos negociadores. Não vigiam seus filhos e não conhecem as amizades deles. Uma mente em formação é vulnerável para as coisas ruins, mas também se desenvolve facilmente para as coisas boas. Por isso a presença e o aconselhamento dos familiares são fundamentais?, complementa Mendes.
O delegado Baretta, da Delegacia de Homicídios, também cita o aspecto preventivo. ?Hoje, ao percorrer os bairros de Teresina, quase não vemos quadras esportivas, parques, creches. O aspecto repressivo precisa ser reforçado, mas ele, sozinho, não é a solução. É preciso investir em políticas públicas também?, finaliza.