Um caso semelhante ao do garoto baiano M.S.A., de três anos, acontecido em dezembro do ano passado, quando foram retiradas 14 agulhas de seu corpo, foi registrado, ontem, quando uma adolescente de 13 anos, que fugiu de Fortaleza (CE), submeteu-se à cirurgia, em hospital de Natal para retirada de nove agulhas detectadas em seu corpo.
As circunstâncias que cercam o caso ainda são desconhecidas e estão sendo apuradas pela 5ª Vara da Infância e Adolescência do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca-CE). A menor que está internada desde a última segunda-feira, no Hospital Infantil Maria Alice, em Natal, levada que foi por uma casal de evangélicos, apresentou, de acordo com a diretora geral do hospital um quadro clínico marcado pela gravidade de lesões.
"Ao ser assistida, a garota queixava-se de fortes dores abdominais e quando submetida a exames de raio-x e tomografia, pode-se encontrar quatro agulhas em sua parede abdominal e cinco localizadas na perna", explicou a diretora Lana Brasil.
A diretora do hospital informou ainda que a jovem em relato apontava ter sofrido violência sexual. "Fizemos um exame ginecológico e identificamos um objeto introduzido na genitália da menina. Isso confirma a versão apresentada por ela, no hospital. O objeto não foi retirado e o laudo deste exame vai ficar pronto nesta quinta-feira", disse Lana Brasil.
Ontem, foram retiradas as agulhas do corpo da adolescente. "As perfurações causadas pelas agulhas não colocaram em risco a vida dela e a integridade de órgãos vitais", completou a diretora do hospital potiguar.
Em Natal
O delegado da Cedeca-RN, Luiz Lucena que está acompanhando o caso, relatou, ontem à reportagem do Diário do Nordeste, que segundo informações obtidas, a jovem deixou Fortaleza, no último dia 10, quando viajou até Mossoró (RN) e depois foi para Natal. Após procurar ajuda em uma igreja evangélica, a jovem foi encaminhada ao Conselho Tutelar (SOS Criança), que a direcionou para a "Casa de Passagem" (abrigo público para adolescentes, em risco de rua), daí acompanhada pelo Cedeca/RN, foi encaminhada na segunda-feira à noite ao hospital.
Segundo o delegado, a garota estava transtornada, quando tentou ouvi-la e no pouco que conversou disse ter sofrido abusos e que participava de rituais d e magia negra, por isso tinha fugido de seus pais. "Conseguimos ganhar sua confiança, ela prometeu contar, escrevendo-me uma carta, o que realmente lhe aconteceu", disse Lucena.
"Mantivemos contato com a promotora Fátima Valente, de Fortaleza e ela nos orientou sobre o caso e pediu que providenciasse alguns exames na jovem, entre os quais o da arcada dentária, já que a mesma não possui qualquer documento que possa identificá-la, principalmente, que registre sua idade", acrescentou o delegado Lucena.
Apuração
A promotora Fátima Valente, da 5ª Vara da Infância e Adolescência, falou ontem à reportagem, afirmando que o caso da jovem está sob investigação e corre em segredo de Justiça. "Um casal de evangélicos levou-a até nós. A jovem contou-nos que tinha fugido de seus pais adotivos por não aguentar sofrer violências. Daí, a encaminhamos para fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e outros exames. Ela iniciou os exames, mas não concluiu, preferindo fugir", relatou a promotora Fátima Valente, que vai ouvir as pessoas envolvidas para tentar elucidar o caso.
MAGIA NEGRA
Caso do menino baiano chocou o País
O caso do menino baiano M.S.A, ocorrido no dia 18 de dezembro de 2009, chamou a atenção da sociedade brasileira e da imprensa internacional, pela ação de violência e tamanha brutalidade cometida contra uma criança que à época tinha dois anos e meio de idade e, que em estado grave de saúde, foi submetida à cirurgia para a retirada do seu corpo.
O menor foi alvo de ritual religioso e entre os presos, acusados de inserir agulhas nele, estava seu padrasto Roberto Carlos Magalhães Lopes, que confessou sua participação como coautor do crime. A suposta amante de Lopes e a dona do centro de rituais religiosos instalado na cidade de Ibotirama, no interior da Bahia foram detidas.
Retirada
No dia 24 de dezembro, o menor foi submetido a intervenção cirúrgica, no Hospital Ana Nery, em Salvador, para retirada dos 14 objetos metálicos, que localizavam-se na bexiga, intestino e fígado. Ao todo foram detectadas 42 agulhas do corpo da criança, sendo que duas destas estavam alojadas, perfurando os pulmões. O estado de saúde do menino foi melhorando a partir da cirurgia, quando teve início a retirada das agulhas de seu corpo.
Ritual
Em depoimento prestado à polícia baiana, o padrasto do garoto contou como acontecia o ritual, em que ele introduzia as agulhas na criança e com quais objetivos cometia o crime. Segundo ele, o principal motivo era fazer com que sua amante ficasse mais presa a ele, pelo fato de estar contra o menino, por ser esta uma espécie de vingança contra a mãe do garoto. O outro motivo, de acordo com o padrasto, era cumprir com as determinações da amante, que quando estava em transe ficava muito violenta e mandava constantemente furar a criança.