A morte de Daniel Pellegrini, o MC Daleste, completa uma semana neste sábado (13). O assassinato do funkeiro de 20 anos em Campinas, no interior paulista, ainda não foi esclarecido, mas já gerou um forte impacto sobre a família e os amigos de Daleste. A primeira delas é não aceitar mais shows com requisitos mínimos de segurança.
Em entrevista, Bio G3, amigo e MC como Daleste, revelou que o costume de realizar shows agora será feito de maneira mais cuidadosa. Ao contrário do que era feito, ele e os demais funkeiros (total de 16) da produtora NoisPorNois, que também agenciava a carreira de Daleste, se recusam a tocar sob qualquer condição. Ele explicou que a rotina de apresentações fez com que jamais fosse possível imaginar um crime como esse.
? Falando como artista, sabemos que o funk é uma música meio restrita às comunidades da periferia, e ela agora começou a ganhar espaço na mídia, na TV, junto a um público mais elitizado. Estávamos acostumados com a violência, com essa situação de pouca segurança nos shows, mas nunca tinha acontecido algo assim antes. Isso mudou agora. Temos um compromisso com nossos amigos, então a cabeça muda.
Desde o crime do último sábado, a produtora recusou alguns shows que não atendiam a questões de segurança, com a existência de alvarás de prefeituras, liberações dos bombeiros, esquemas de seguranças com aval da Polícia Militar local, e ambulância para artistas e público. Salvo o alvará, as demais condições não foram respeitadas em Campinas, de acordo com Bio G3, pelo produtor Rogério Rodrigues.
? Já tínhamos trabalhado com esse produtor duas, três semanas antes dessa tragédia. Em nenhuma delas tinha ambulância ou segurança, mas não tinha histórico de problemas também. O caso do Daleste, infelizmente, se tornou algo isolado. Na segunda-feira passada mesmo, fizemos um show lá e sempre parecia ser algo de risco. Agora exigimos um mínimo de segurança, senão recusamos o show.
A conduta anterior, de se colocar em uma situação de risco, era vista com naturalidade pelos funkeiros até como forma de expressão. Bio G3 diz que o contato com o público, sem ?abandonar as raízes?, era uma cobrança constante entre os músicos e cada uma das comunidades onde eles se apresentavam.
? Pessoal dizia muito pra gente não esquecer de onde viemos, para não abandonar a comunidade, então isso era um compromisso social com os nossos amigos, com as nossas famílias. Mesmo ganhando dinheiro, nunca ninguém queria abandonar a favela. Mas você acaba revendo isso quando algo assim acontece. Não conseguimos nem no show ter segurança, ter paz, então é triste ter de se preocupar com essas situações. Só fazemos shows abertos se estivermos seguros. Isso, claro, fere a nossa relação com os fãs, mas não tem como não ter mais cuidados agora.
Mistério
A polícia ainda investiga o caso e não descarta nenhuma hipótese. Mais de 15 pessoas, entre amigos, parentes de Daleste e testemunhas foram ouvidas em Campinas.
Mais do que o mistério em torno do crime, o que incomoda quem conhecia Daleste são os boatos em torno do caso. Bio G3 diz que muitas pessoas tentaram se aproximar nos últimos dias com várias informações, muitas delas mentirosas, segundo ele.
? Quem conhecia ele (Daleste) não consegue entender, era alguém tranquilo, não bebia, não usava drogas, não tinha inimigos. Sei que as coisas conosco tem dez vezes mais repercussão do que com uma pessoa normal, justamente pela nossa exposição. Então um esbarrão, uma coisa banal qualquer poderia gerar isso, mas o Daleste teria nos dito. A caminho do hospital ele dizia que não conseguia entender o motivo daquilo.
Material inédito
Para os fãs, os amigos de Daleste adiantam que o funkeiro deixou muito material inédito. A produtora responsável pela carreira do músico promete lançar o trabalho, embora não dê prazo para isso. Toda a renda gerada por esse material ainda a ser lançado, de acordo com Bio G3, será direcionado para a família.
? Queremos que tudo o que for lançado seja revertido para os familiares do Daleste. Era um desejo dele ver tudo isso lançado um dia. Temos um clipe pronto que iria estrear agora, nessa semana passada, antes da tragédia. A preocupação para fazer tudo da maneira correta é grande. Não definimos datas ou prazos, porém vai acontecer, os fãs podem esperar. Como ele gostaria de ver, nós não vamos nos dobrar, vamos manter o legado dele vivo. A cultura da periferia está viva e assim vai continuar.