Num intervalo de oito anos, a piscina tone aumentou. E foi além. Deu lugar a uma bela piscina azulejada e aquecida. O luxo custou R$ 9.350, só em material e mão de obra para instalar a bomba de calor. O piso do quintal em Água Santa, feito de cacos de azulejos, também ficou para trás. Na casa de cerca de 400 metros quadrados no Condomínio Suíça Carioca I, em Jacarepaguá, só a decoração de uma parede de 18,2 metros quadrados com filetes de pedra de são tomé saiu por R$ 4.889.
A prosperidade do ex-gerente de Saúde do Correios Marcos da Silva Esteves ? cujo salário base é R$ 4.845,71 e, com as gratificações, não chegava a R$ 7 mil ? garantiu ainda férias de janeiro na Disney para toda a família e com direito a compras. Apenas na loja de grife de bolsas Michael Kors, foram 815,38 dólares (cerca de R$ 1.875).
A ostentação de riqueza, que chama a atenção de colegas de trabalho, também é investigada pela Operação Titanium, conduzida pelo Núcleo de Repressão a Crimes Postais, da Polícia Federal, que apura esquema de desvio de dinheiro por meio de cirurgias superfaturadas e internações fraudadas pagas pelo plano de saúde do Correios.
No dia 16 de outubro, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Esteves, um dos principais suspeitos de coordenar as fraudes. Foram apreendidos documentos, inclusive originais, de cirurgias pagas pela estatal, que não poderiam ter sido desviados do setor, que passa por sindicância. A PF também apreendeu dois carros ? um Cruze, da GM, que custa cerca de R$ 65 mil, e um HB20, da Hyundai, cujo modelo mais simples sai por R$ 33 mil. Nada mal para quem dirigia, em 2004, um Corsa.
Exonerado do cargo em abril, Esteves autorizou cirurgias superfaturadas quando era gerente. Uma delas custou quase R$ 1 milhão. Em agosto, ele disse que não se lembrava de ter autorizado a operação.
O Correios afirma que a apuração na esfera administrativa está em andamento. "A fim de aprimorar os controles, a gestão e a transparência do plano de assistência médica, os Correios estão modernizando o sistema, com a implantação de uma caixa de assistência no formato de auto-gestão, com controle, acompanhamento e gestão regulados pela Agência Nacional de Saúde", acrescentou a empresa.
O EXTRA revelou, em agosto, um esquema de superfaturamento em cirurgias pagas pelo Correios. A reportagem mostrou que a operação de coluna de uma idosa de 80 anos custou quase R$ 1 milhão. A lista com 15 itens, como parafusos e porcas, foi comprada por R$ 65.208 pela AC Consultoria, que tem como sócios Carlos Alberto Alonso Filho e Aline Gomes de Oliveira. Alonso, que se apresentava em nome de Marcos Esteves, também é dono do Centro de Clínica Médica e Fisiatria Dr. Carlos Alonso, em Petrópolis, no qual é sócio de Gilberto Silva Cabral. Esse último aparece como sócio da O2 Surgical, que vendeu o material para o Correios por R$ 961.886,56. A guia de autorização, de 26 de março, foi liberada por Esteves.
A PF investiga ainda o envolvimento de João Maurício Gomes da Silva, indiciado por peculato, no último dia 24, e exonerado do cargo de assessor técnico da direção da estatal no Rio. Ele teria fraudado a internação da mulher, que custou R$ 53 mil ao Correios.