Filho diz à policia que matou cineasta Eduardo Coutinho por não querer os pais desamparados

O depoimento durou pouco mais de duas horas e foi prestado no Hospital Miguel Couto, na Gávea, na Zona Sul do Rio

Eduardo Coutinho | Divulgação
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O filho do cineasta Eduardo Coutinho confessou à polícia ter matado o pai a facadas e esfaqueado também a mãe, Maria das Dores Coutinho, de 62 anos, que permanecia hospitalizada na tarde desta terça-feira (4). As informações são do titular da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, como mostrou o RJTV.

Daniel Coutinho, de 41 anos, foi ouvido pela Polícia Civil na noite de segunda-feira (3), com a presença do inspetor e psicólogo da Divisão de Homicídios, Gilvan Ferreira. O depoimento durou pouco mais de duas horas e foi prestado no Hospital Miguel Couto, na Gávea, na Zona Sul do Rio, onde Daniel está internado sob custódia, já que teve a prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio. No entanto, detalhes do depoimento não foram revelados pela polícia.

Eduardo Coutinho foi morto em casa no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, na manhã de domingo (2). Para a polícia, Daniel matou o pai, esfaqueou a mãe, Maria das Dores Coutinho, e depois atingiu a própria barriga com facadas durante um "surto psicótico". Ele e a mãe passaram por cirurgia no Hospital municipal Miguel Couto. Maria das Dores foi transferida para uma unidade particular na segunda-feira (3), mas o nome do hospital não foi divulgado.

"Ele confessou o crime e, na verdade, explicou que tinha medo constante de viver e o objetivo era se suicidar, mas ele disse que não queria deixar os pais desamparados", afirmou o delegado Rivaldo Barbosa.

Sobre a informação de que Daniel sofreria de esquizofrenia, o delegado reafirmou que apenas a perícia judiciária poderá confirmar isso e frisou que não há como estabelecer relação entre os fatos. "Não dá para comprovar [que ele seja esquizofrênico]. Não tem relação direta entre doença mental e prática de crime. O que importa é que o crime foi esclarecido pela Divisão de Homicídios", disse Barbosa.

Segundo o inspetor de polícia e psicólogo Gilvan Ferreira, Daniel demostra arrependimento. Ele está estável e lúcido.

Enterro

O corpo de Coutinho foi enterrado às 16h20 desta segunda-feira (3). O velório começou às 10h30, na Capela 3 do Cemitério São João Batista, em Botafogo, também na Zona Sul. Dezenas de parentes, amigos e colegas de profissão se despediram de um dos principais documentaristas do país. Uma salva de palmas de quase cinco minutos marcou o adeus a Coutinho.

"Palavras desconexas"

Logo após o crime, Daniel teria batido na porta de um vizinho, "não concatenando as ideias" nem "falando palavras corretas", em um aparente surto, contou o delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios.

A mãe de Daniel, Maria das Dores, levou dois golpes de faca nos seios e três na barriga, além de sofrer uma lesão no fígado.

De acordo com o delegado, Maria das Dores se salvou porque conseguiu se trancar no banheiro após ser ferida. De lá, ligou para o outro filho do casal, o promotor Pedro Coutinho.

O delegado contou que Daniel primeiro golpeou o pai, até matá-lo. Em seguida, atacou a mãe. Ele, então, aplicou dois golpes de faca na própria barriga, foi até a porta do vizinho e pediu para o homem avisar o porteiro sobre o ocorrido. Daniel voltou para o apartamento e ficou lá até a chegada dos bombeiros.

"Ele abriu para os bombeiros voluntariamente. O porteiro bateu, ele abriu", explicou Barbosa, acrescentando que uma vizinha disse ter ouvido gritos.

Duas facas sujas de sangue foram apreendidas no quarto de Daniel e encaminhadas para perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE).

Carreira

O paulistano Eduardo Coutinho ganhou em 2007 a estatueta Kikito de Cristal, do Festival de Cinema de Gramado (principal premiação do cinema nacional), pelo conjunto de sua obra. Entre seus principais filmes, estão "Edifício Master", "Jogo de cena", "Babilônia 2000" e "Cabra marcado para morrer".

Em junho do ano passado, ele e o também cineasta José Padilha (autor dos filmes "Tropa de elite" e "Tropa de elite 2: O inimigo agora é outro") foram convidados a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Ampas, na sigla em inglês), responsável pela premiação do Oscar.

Em toda a carreira, Coutinho dirigiu 20 filmes, entre longas e curtas-metragens, segundo informações do site IMDB. São eles:

"O ABC do amor" (1967)

"O homem que comprou o mundo" (1968)

"Faustão" (1971)

"Seis dias de Ouricuri" (1976)

"Teodorico, o imperador do sertão" (1978)

"Exu, uma tragédia sertaneja" (1979)

"Cabra marcado para morrer" (1985)

"Santa Marta" (1987)

"O fio da memória" (1991)

"Boca de lixo" (1993)

"Santo forte" (1999)

"Babilônia 2000" (1999)

"Porrada" (2000)

"Edifício Master" (2002)

"Peões" (2004)

"O fim e o princípio" (2006)

"Jogo de cena" (2007)

"Moscou" (2009)

"Um dia na vida" (2010)

"As canções" (2011)

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