Isabel Cristina Batista, mãe do jovem Kaique Augusto Batista dos Santos, encontrado morto no sábado (11) no centro de São Paulo, disse nesta terça-feira (21) acreditar que o jovem cometeu suicídio, e não foi vítima de crime de homofobia, possibilidade que foi sugerida desde o início das investigações e chegou a ser tratada como fato por representantes do governo federal.
A mudança de posicionamento da família de Kaique foi comunicada durante uma entrevista coletiva, realizada no início da tarde desta terça-feira na zona oeste de São Paulo.
A mãe do jovem gay, ao lado do advogado que cuida dos interesses da família, Ademar Gomes, pediu desculpas à polícia --que desde o início tratava a possibilidade de suicídio como a principal linha de investigação da morte de Kaique--, por ter sugerido que as autoridades resistiam em considerar a hipótese de crime de homofobia. "Estou convicta de que foi suicídio", disse.
A mãe de Kaique e o advogado afirmaram que a mudança de postura em relação às razões para a morte do jovem foi motivada por uma investigação paralela, que foi conduzida sem participação da polícia, que ouviu amigos dos jovem e teve acesso a documentos privados do jovem --como um diário. Segundo Gomes, em nenhum momento a polícia impediu a investigação paralela de ser conduzida. "As pessoas que foram ouvidas pela polícia também foram ouvidas pela minha equipe", disse o advogado, ressaltando que não encontrou nenhuma contradição entre sua investigação e a realizada pela polícia.
Para o advogado, a falta de esclarecimento em relação às circunstâncias em que o corpo de Kaique foi encontrado levou a mãe do adolescente a acreditar que se tratava de um homicídio. "De fato, não há nenhuma testemunha que viu Kaique se suicidando. Mas após analisar o diário do filho e conversar com seus amigos, Isabel chegou à conclusão de que ele estava em depressão profunda", disse Gomes.
"Está sendo muito difícil, porque eu não tinha conhecimento dessa depressão dele, a reação dele dentro de casa não era o que ele escrevia", disse Isabel, acrescentando que Kaique sempre se mostrava alegre com a família. Ela negou que o jovem sofresse preconceito da parte da família por ser homossexual. "Eu nunca rejeitei meu filho, sou uma cabeleireira e trabalho com muitos homossexuais, nunca tive preconceito com isso."
Sem dar mais detalhes sobre o conteúdo do diário de Kaique, o advogado da família sugeriu que o suicídio poderia ter sido motivado por uma decepção amorosa. "Pode ter sido alguma decepção, uma briga entre casais, isso é comum."
Entenda o caso
Kaique foi achado morto na madrugada do último sábado (11), na região central de São Paulo. Segundo a "Folha de S.Paulo", ele tinha sido visto pela última vez em uma festa destinada ao público gay na região da República.
A Polícia Civil de São Paulo registrou a morte de Kaique como suicídio, o que provocou revolta da família e ativistas da causa gay. O jovem foi encontrado morto embaixo do viaduto da avenida Nove de Julho, sem os dentes e com uma fratura exposta na perna. A polícia ainda investiga o caso, mas cogita que os ferimentos possam ser resultado de uma suposta queda do viaduto.