Falsa psicóloga enganou 70 famílias em três anos, diz a polícia

Titular da Decon pede que as pessoas lesadas procurem a delegacia

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A Polícia Civil do Rio de Janeiro estima que ao menos 70 famílias de pacientes com autismo tenham sido enganadas pela falsa psicóloga Beatriz Cunha entre 2008 e este ano. Ela é suspeita de estelionato, propaganda enganosa, exercício ilegal da profissão, falsidade documental e tortura. O titular da Decon (Delegacia do Consumidor), Maurício Luciano de Almeida e Silva, conta que 21 denúncias de pais de filhos com autismo chegaram à delegacia depois que a suspeita foi presa no final de abril passado.

- Nós já temos 21 procedimentos de famílias que vieram até a delegacia denunciar a falsa psicóloga. Mas nós temos uma ideia de que pelo menos 70 crianças se trataram com a Beatriz Cunha de 2008 até hoje.

O delegado conta que chegou a esse número a partir de listagem com nomes de pacientes apreendida no consultório da falsa psicóloga em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.

O titular da Decon pede que as pessoas atendidas pela falsária procurem a polícia para ajudar nas investigações. Ele ressalta que a suspeita de tortura, outro inquérito a que Beatriz responde, foi apurada durante os depoimentos de alguns pais.

- Não adianta forçar ninguém a comparecer, se os pais não quiserem colaborar com as investigações. Ainda temos muita coisa para apurar e vamos conseguir isso por meio dos depoimentos dos pais das crianças atendidas pela Beatriz Cunha. Mas sabemos que ela atendia pessoas com alto poder aquisitivo, como desembargadores de Justiça, e essas pessoas não querem expor a família.

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Conselho de psicologia

Pai de Igor, de sete anos, Gilson Moreira diz que só pensou nos danos à saúde do filho quando decidiu procurar a polícia para denunciar a falsa psicóloga. O advogado, que desconfiou da fraude quando pediu recibos do tratamento para declarar as despesas no Imposto de Renda, teve prejuízos de até R$ 50 mil.

Gilson reconhece que, se tivesse procurado pelo número de inscrição de Beatriz Cunha no CRP (Conselho Regional de Psicologia), o filho não teria passado por um tratamento de dez meses em vão.

- Meu filho não teve progressos, só regrediu. Fui levado pela propaganda enganosa de uma falsa especialista, mas fica a lição de pesquisar o currículo do profissional independentemente de títulos e recomendações.

O CRP do Rio orienta a buscar informações sobre o profissional no sistema de psicólogos cadastrados no site da instituição e, caso não encontre, entrar em contato pelo telefone (0xx21) 2139-5400.

Doze anos de fraude

Beatriz Cunha foi presa em flagrante no dia 27 de abril durante uma consulta em sua clínica de tratamento especializado em autismo. Ela foi solta depois de três dias. Segundo a Polícia Civil, a falsa psicóloga atuava há 12 anos como uma das principais especialistas da síndrome no país. Ainda de acordo com a polícia, Beatriz cobrava R$ 800 pela primeira consulta e depois a hora custava R$ 90.

A falsária disse à polícia que só cursou dois períodos da faculdade de psicologia. A fraude foi descoberta pelos pais de um paciente, que desconfiaram de Beatriz quando pediram a ela recibos para declarar as despesas no Imposto de Renda.

Ela responderá pelos crimes de estelionato, propaganda enganosa, exercício ilegal da profissão, falsidade documental e tortura. Por causa de denúncia de maus-tratos, a prisão temporária de Beatriz foi decretada em 7 de maio.

O marido da falsária, Nelson Antunes de Faria Junior, foi indiciado por coautoria, já que, segundo a polícia, ele sabia dos crimes praticados pela mulher.

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