A ex-mulher de Mizael Bispo de Souza, acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima em março de 2010, afirmou ao G1 que policiais civis apontaram armas em direção à sua cabeça e invadiram, sem mandado judicial, a casa onde ela mora com a filha de 9 anos, fruto do relacionamento com o suspeito, na noite de sexta-feira (8), em Guarulhos, na Grande São Paulo. A Divisão de Capturas da Polícia Civil procurava Mizael, que teve a prisão preventiva decretada pela Justiça em dezembro. O delegado chefe da divisão negou as acusações da ex-mulher de Mizael.
A defesa do réu informou que irá entregar uma petição à Justiça, nos próximos dias, exigindo providências contra o que chamou de "ação policial truculenta e arbitrária". Os advogados de Mizael procuraram o G1 na quarta-feira (13) para informar que a ex mulher dele queria fazer a denúncia.
?Eu estava na esquina e eles miraram a arma em direção a mim. Miraram na minha cabeça, é claro. Dois ou três policiais da Civil apontaram. Eu estava na área de cima da minha casa, na sacada. Eles estavam fora, em frente à minha casa, na rua. Não em cima da calçada, mas na rua, em frente à minha casa?, disse Nilza Porto de Souza, de 34 anos, ex-mulher do advogado Mizael, um dos nomes que figuram na lista dos mais procurados pela polícia paulista. Segundo ela, a ação policial ocorreu por volta das 22h da sexta passada. A entrevista foi gravada.
Samir Haddad Junior, um dos advogados de Mizael, afirmou que também vai entregar uma cópia da petição à Justiça também para a Corregedoria da Polícia Civil. ?Os policiais jamais poderiam ter entrado na casa da ex-mulher dele sem qualquer mandando judicial. Além disso, foram num horário errado. O horário permitido é das 6h às 20h. E o mais grave de tudo: apontaram uma arma para a ex-esposa, em claro sinal de intimidação e ameaça?, disse Haddad Júnior.
O G1 procurou a Divisão de Capturas, uma das mais prestigiadas da Polícia Civil, para comentar o assunto. O delegado Waldomiro Milanesi, chefe da divisão, respondeu às críticas de Nilza por meio de nota, informando que a ação policial seguiu as "normas legais vigentes, especialmente no que se referem ao cumprimento de mandado de prisão" e que "as declarações" da ex-mulher de Mizael "são contraditórias por si mesmas" (leia trechos abaixo).
Mizael, de 41 anos, é réu no processo no qual é apontado como o assassino da advogada Mércia, de 28 anos, em 23 de maio de 2010, quando ela desapareceu de Guarulhos. Em 11 de junho, bombeiros encontraram o carro da vítima numa represa em Nazaré Paulista, no interior do estado de São Paulo. Em 12 de junho, acharam o corpo dela. Segundo o Ministério Público, o acusado matou a ex-namorada por ciúmes.
Mizael sempre negou o crime, mas é procurado desde o dia 13 de dezembro, quando teve a prisão decretada pela Justiça de Guarulhos. Além dele, o vigia Evandro Bezerra Silva, de 39 anos, também é procurado acusado de ajudar o advogado a matar Mércia. Ele também figura na lista dos mais procurados, mas alega inocência.
Ele não está escondido aqui?
O paradeiro dos acusados é desconhecido. Ambos estão escondidos à espera de uma decisão favorável aos recursos impetrados por suas defesas nas instâncias superiores da Justiça. Serão analisados pedidos para relaxamento das prisões decretadas. Enquanto isso, a Polícia Civil busca pistas de onde eles possam estar em cumprimento à decisão judicial de prendê-los.
A última informação é que Mizael estava escondido na casa da ex-mulher na sexta passada. ?[Os policiais] falaram que o Bispo estava aqui. Aí eu falei que não estava aqui dentro. Jamais ele vai estar aqui para prejudicar eu e minha filha. Jamais ele vai ficar aqui na minha casa?, reclamou Nilza.
A ex-mulher de Mizael afirmou que a operação policial à procura de Mizael foi truculenta. "Eu autorizei eles entrarem depois que o [advogado] Ivon [Ribeiro] chegou. Antes eu não ia autorizar. Jamais vou deixar aquele bando... Além de estar agressivo, vou deixar entrar depois das 22h na minha casa, comigo e com minha menina? Ele falou que queria entrar porque ele estava escondido aqui dentro. Eu só posso deixar entrar quando o meu advogado chegar."
Nilza contou que abandonou o emprego de vendedora desde a decretação da prisão do ex. ?Fiz isso para cuidar da minha filha. Ela não tem o pai por perto e tenho medo de acontecer algo com a menina com tanto policial na porta de casa quase todos os dias.?
Segundo ela, essa não foi a primeira vez que a polícia entrou em sua casa à procura do ex-marido.
Com a autorização dela, a filha, uma estudante de 9 anos, afirmou ao G1 que está com medo dos policiais. ?Fiquei assustada com o que ocorreu na sexta feira. Eles chegaram gritando e batendo no portão. Fiquei com medo de arrombarem o portão. Eles falavam: "Olha ele ali na sacada, mas era minha mãe. Eles foram bastante agressivos.?
Questionada se acredita na inocência de Mizael, Nilza afirmou que sim. Também indagada, a fila do acusado disse que seu pai não é assassino. ?Ele não seria capaz de matar ninguém?, afirmou a menina.
O que diz a Divisão de Capturas
"Em atendimento aos termos da mensagem, noticiando o reclamo da senhora Nilza Porto de Souza, imprescindível consignar que os atos de Polícia Judiciária realizados pelos policiais civis desta Divisão de Capturas estão sempre fundamentados nas normas legais vigentes, especialmente no que se referem ao cumprimento de mandado de prisão.Independentemente das declarações da senhora Nilza Porto de Souza, que são contraditórias por si mesmas, importante afirmar que existe mandado de prisão expedido em desfavor do réu Mizael Bispo de Souza, acusado de homicídio qualificado pela Vara do Júri da Comarca de Guarulhos, em que figura como vítima a senhora Mércia M. Nakashima, justificando os atos de Polícia Judiciária na busca da sua localização e captura. No acompanhamento dos fatos que foram amplamente divulgados pela mídia, não só esta Especializada ? Divisão de Capturas ? mas também todos os demais agentes públicos da segurança, com investigações e informações da própria sociedade, em denúncias, vêm realizando buscas na localização e captura do referido foragido. (...) Por fim, importante esclarecer que as instituições policiais possuem Corregedorias independentes e responsáveis para apuração de eventuais irregularidades praticadas por seus agentes as quais deverão ser acionadas pelas pessoas interessadas", disse o delegado Waldomiro Milanesi, chefe da Divisão de Capturas, em nota enviada por email ao G1.
O delegado Milanesi também pediu na nota para quem tiver qualquer informação sobre Mizael ou Evandro telefonar para os seguintes números: 181, do Disque Denúncia; 197, da Polícia Civil, ou 190, da Polícia Militar. Não é necessário se identificar.