“Eu estou pagando pelo que não lembro”, diz acusado de matar amiga

Duas testemunhas de acusação também foram ouvidas nesta quinta

Acusado de matar amiga | Divulgação
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O músico Bruno Kligerman, de 26 anos, que responde pela morte da jovem Bárbara Calazans, de 18 anos, estrangulada em outubro de 2009, foi ouvido pela Justiça nesta quinta-feira (4). O caso ganhou repercussão na época porque o jovem, viciado em crack, foi entregue à polícia pelo próprio pai.

Bruno alega não se lembrar da ocasião do crime. "Eu estou sofrendo pela perda de uma amiga e pagando pelo que não me lembro", disse ele ao juiz Fábio Uchôa, do I Tribunal do Júri da Capital.

Bruno contou que o primeiro momento do qual se lembra após a morte de Bárbara é de ele sendo algemado, mas que seu pai, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa, teria contado que ele teria coberto o rosto de Bárbara e lhe telefonado em seguida.

Duas testemunhas de acusação também foram ouvidas nesta quinta, além de quatro testemunhas de defesa.

Na audiência desta quinta, primeiro foram ouvidas as duas testemunhas de acusação, uma amiga e um amigo de Bruno. Os dois contaram que sabiam que Bruno era viciado em drogas e que, por isso, seria manipulador. O acusado esteve presente durante todos os depoimentos e, quando recebeu a palavra, declarou: ?Todo adicto é manipulador. Manipulei muitas pessoas para usar drogas, mas nunca me meti com crime?.

Músico diz que guarda foto da amiga

Bruno também contou como passou os dias após ser preso: ?Chorei muito tempo, muitos dias. Guardo uma fotinha da Bárbara que recortei de um jornal. Eu já surtei, quebrei um monte de coisas. Na cadeia eles gostam de fazer brincadeiras infantis. Eu fiz uma monstruosidade, mas não sou um monstro?, disse ele, antes de afirmar que já teria tentado se matar no presídio.

Ampliar Foto Foto: Daniella Clark/G1 Foto: Daniella Clark/G1

Bruno Kligierman durante a primeira parte da audiência, realizada em 21 de janeiro, no Tribunal de Justiça do Rio (Foto: Daniella Clark/Arquivo G1)

As testemunhas relataram uma agressão de Bruno a uma ex-namorada. Bruno assumiu ter batido nela mas, segundo ele, ele próprio havia sido vítima da jovem. ?Eu bati, mas ela já me jogou torradeira, caco de vidro, já me cortou, me chutou, até que eu perdi a paciência?.

Uma das testemunhas de defesa, Pablo Couto, amigo de Bruno há 15 anos, contou que os dois estiveram juntos na casa de Pablo na noite anterior ao crime. Ele contou que bebeu cerveja com o amigo e que, por volta de 5h da madrugada, Bruno deixou a casa dele.

Outra testemunha de defesa, a avó de Bruno, Maria Guilhermina contou que, depois da casa de Pablo, Bruno passou na casa dela, por volta de 7h30. Ela disse que Bruno estava com sinais de embriaguez e que pediu dinheiro para ir até um teste para figurantes que faria naquele dia. O teste também foi mencionado por Pablo.

Bruno contou que não se lembra de ter ido na casa da avó naquele dia, nem da hora que saiu da casa de Pablo. Todas as testemunhas contaram que Bruno era drogado, que já tinha usado crack, cocaína, maconha e que utilizava medicamentos tarja preta, que teriam receitas médicas.

Bruno também assumiu que foi viciado em crack, e, segundo ele, sente vontade de consumir a droga até hoje. Ele disse que na prisão participa dos Narcóticos Anônimos e que está há 114 dias sem drogas.

"Venho pedir uma oportunidade de mais uma vez me tratar, dentro do sistema prisional. Não adianta nada me jogar numa prisão, ficar 20, 30 anos, para eu virar um viciadinho de cadeia. Eu tenho condição de me recuperar", disse ele.

Audiência suspensa

A primeira audiência do processo foi suspensa na noite de 21 de janeiro, depois que cinco testemunhas de acusação havia sido ouvidas.

Uma das testemunhas ouvidas em 21 de janeiro foi o policial militar Rogério Borges da Silva, do 2° BPM (Botafogo), que foi ao apartamento de Bruno após o pai comunicar o crime à polícia. Ele contou que encontrou Bárbara coberta por uma manta azul e que o local estava muito sujo e maltratado. O PM disse ainda que o músico afirmou que passara a noite cheirando crack e tivera uma discussão com a vítima. O policial, no entanto, afirmou que não encontrou vestígios da droga no apartamento.

O pai de Bruno afirmou que o filho começou a ter contato com as drogas aos 12 anos e foi internado quatro vezes para tratar sua dependência química. Segundo o pai, Bruno teve uma recaída em 2009 após receber em abril a notícia da morte da mãe, que também era dependente química, com quem tinha feito as pazes após mais de 20 anos sem contato. Ainda segundo o pai, Bruno estava há 20 dias sem consumir crack antes do dia do crime, quando ingeriu uma grande quantidade da droga.

Uma amiga de Bruno e de Bárbara também prestou depoimento em janeiro. Roberta Ferreira Gonçalves disse que tinha ouvido outras pessoas comentarem sobre o comportamento violento de Bruno, apesar de não ter presenciado nenhum episódio. Ela disse ainda que Bárbara estava tentando ajudá-lo a deixar as drogas: "A Bárbara sempre queria ajudar quem precisava", disse Roberta, que viu a vítima pela última vez após um show da banda de Bruno.

Defesa pedirá exame de sanidade mental

Enquanto aguardava o início da audiência, Luiz Fernando Prôa afirmou que o filho, além do vício, sofre de esquizofrenia.

"A pena do Bruno não é só dele, é dele e da família. Se não fosse o crack, não teria chegado aonde chegou, não teria aquele motivo que fez a doença evoluir?, disse Luiz Fernando, no corredor do Tribunal de Justiça do Rio.

?Eu entrego na mão de Deus, ele é que sabe o que aconteceu de fato, e ele que é o maior julgador. Espero que seja feita a Justiça e que meu filho seja considerado o que é, doente mental, que misturou substâncias, tarja preta, com crack, com álcool, e junto com a loucura dele cometeu um ato insano?, completou.

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