O estudante Pedro Henrique Afonso é o personagem central em um episódio absurdo registrado na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). O aluno foi preso por uma suposta tentativa de roubo de um carro no estacionamento da Faculdade de Políticas Públicas da instituição. O problema é que o veículo era do próprio estudante.
“Ao trancar o meu carro, fui abordado por uma viatura da PM. ‘O que você está fazendo aí?’. Respondi que era trabalhador. Um sargento e um cabo, ambos da 124ª cia, do 22º BPM, saíram com armas em punho: ‘mão na cabeça, vagabundo, e cala a sua boca’. ‘Conheço meus direitos, não podem me abordar dessa forma e já vou fazer uma representação contra vocês na corregedoria’, argumentei. Foi o suficiente para que a truculência aumentasse”, escreveu Pedro em sua página no Facebook.
Segundo o estudante, colegas e professores protestaram contra a sua prisão, mas não obtiveram nenhum resultado. Ele ainda pediu para que os policiais militares averiguassem se o carro não era mesmo dele, porém não adiantou. “O tempo inteiro eu estava algemado, ainda que em nenhum momento tinha resistido fisicamente à prisão. Queriam me humilhar, constranger. Conseguiram”.
Levado para uma delegacia, foi denunciado pelos PMs por desobediência, desacato à autoridade e resistência à prisão. Ainda foi humilhado, ouvindo frases como “você vai pagar umas cestas básicas para aprender o que é polícia”. Segundo o jornal O Estado de Minas, uma audiência de conciliação foi realizada no último dia 14, mas terminou sem acordo. “Foi feita uma proposta para eu pagar serviços sociais, porém, meu advogado não aceitou, porque sou inocente”, disse Pedro ao jornal.
O caso fez a comunidade acadêmica se mobilizar. O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) já foi informado e é esperado que seja aberta uma investigação pelo órgão para apurar as eventuais violações cometidas contra o estudante. O vice-reitor da UEMG, José Eustáquio de Brito, lamentou o episódio, o qual mostra um ‘racismo institucional’ vivido por negros no Brasil.
“Infelizmente, a situação constrangedora vivida pelo Pedro Henrique tem sido uma constante no cotidiano de jovens negros do sexo masculino em nosso País”, comentou o vice-reitor. Amedrontado, Pedro afirmou que mudou os seus hábitos após o episódio, e consolidou para si o entendimento do que é polícia para a população negra brasileira.
“Eu, como a maioria dos negros e negras deste país, sei muito bem o que é polícia. Fui preso, constrangido, humilhado, machucado porque sou negro. Porque, sendo negro, ousei ter um carro, dirigi-lo e me recusar a pedir desculpas por isso. Porque, sendo negro, me recusei a ser suspeito, a tomar um esculacho sem protestar. Eu tenho possibilidade de vir aqui, de reverberar essa violência, de ter os docentes da minha faculdade posicionando-se a meu favor, de ter o apoio da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil. A grande maioria dos jovens negros deste país, negros, pobres e periféricos, pouco podem fazer contra a violação sistemática de seus corpos, integridade e dignidade. Ainda assim, somos irmãos de cor e sabemos, muito bem, desde muito cedo, da pior maneira possível, o que é polícia”, concluiu.
Ao Estado de Minas, o comandante do 22º Batalhão da PM, tenente-coronel Eucles Figueiredo, disse que o caso não foi informado à corporação e que, por isso, não havia nada a ser declarado. “O 22º BPM desconhece. Não fomos formalmente acionados a respeito. Não posso me manifestar acerca de reclamações que não recebemos”, disse.