Apesar da grande divulgação da morte de Isabella Nardoni, especialistas ouvidos pelo G1 acreditam que a percepção dos jurados sobre o crime pode mudar durante o julgamento dos acusados, Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, marcado para começar nesta segunda-feira (22) no Fórum de Santana, na Zona Norte de São Paulo. Ou seja, nada está definido até a conclusão do conselho de sentença. ?Um detalhe pode mudar tudo?, afirma o jurista Luiz Flávio Gomes, especialista em direito penal.
Para Gomes, os jurados podem até entrar com uma opinião sobre o caso, mas a oratória de defesa e acusação pode alterá-la. ?O decisivo é a comunicação e a oratória das partes. A parte que conseguir ser mais convincente e transmitir mais confiança aos jurados ganha. E, por isso, o promotor e a defesa precisam trabalhar as provas. Uma testemunha pode trazer um dado novo que muda o rumo completamente?, acredita o jurista.
O especialista acredita que o jurado teme não tomar a decisão correta. ?O jurado morre de medo de condenar inocente?, afirma. O advogado Mauro Otávio Nacif também defende que o jurado assume um ?compromisso com a consciência?. ?Eu entendo que a mídia e as reportagens influenciam o povo comum, mas não aquele cidadão que prestou um juramento, que é o jurado, e que tem um compromisso com a consciência?, diz.
Nacif foi o advogado de defesa da Suzane von Richthofen, condenada pela morte dos pais, durante o julgamento ocorrido em julho de 2006. Ele teve que desenvolver a estratégia de defesa também em um crime de grande repercussão nacional. Mas o advogado acredita que a maneira de o defensor trabalhar nos dois casos é muito distinta. ?É completamente diferente, a Suzane tinha confessado, esse casal negou [o crime]. A maneira de defender é completamente diferente. A dúvida favorece o réu.?
O advogado não acredita que, em casos como esses, os jurados entrem com uma opinião completamente formada. ?Eles não vão entrar com a cabeça formada. Ele entra com a cabeça formada no corredor, no elevador. Depois de prestar o compromisso, tudo muda?, diz. ?É muito fácil julgar um réu na padaria, na faculdade ou na esquina. Cada um fala o que quer de uma maneira completamente descompromissada. Porém, no dia do julgamento, existe o juramento perante as leis e a consciência.?
O criminalista Sergei Arbex Cobra, secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), diz que os jurados sabem que ?têm que condenar com base nas provas?. ?Quando você assume aquele compromisso, começa a entrar no processo e a responsabilidade pesa, e muito?, afirma. Por isso, segundo ele, ?uma argumentação forte pode mudar o pensamento?. ?O júri é o maior momento do advogado criminal, onde você tem mais liberdade. Um detalhe pode acabar com o júri, uma fala sua errada.?