Empresária é suspeita de lavar dinheiro da quadrilha de Beira-Mar

Em um único dia, por exemplo, uma das firmas da investigada chegou a colocar na conta do aposentado R$ 115.985

PF está apurando ligação de empresária paranaense com a quadrilha de Beira-Mar | Agência Estado
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A PF (Polícia Federal) e a Justiça Federal do Paraná estão investigando uma empresária que é suspeita de usar firmas de sua propriedade, contas bancárias e até fundos de previdência privada para lavar o dinheiro da quadrilha do traficante fluminense Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, atualmente preso na penitenciária federal de Mossoró (RN).

O inquérito, que foi aberto em 2009, é um desdobramento da Operação Fênix que foi desencadeada pela PF em 2007 e resultou na condenação de Beira-Mar e outras 13 pessoas ligadas ao seu grupo.

Em razão da suspeita da ligação da empresária com Beira-Mar, a Justiça Federal paranaense determinou o bloqueio de todos o seus ativos financeiros, bens e valores depositados em fundos de previdência privada. Pelo menos R$ 3 milhões guardados em duas contas bancárias da investigada estão à disposição da Justiça. O nome dela é mantido em sigilo.

A suspeita de ligação da empresária com Beira-Mar surgiu a partir de uma conta bancária de um aposentado que, segundo investigações, foi usada para lavar o dinheiro da quadrilha do criminoso fluminense.

Nela, o bando do traficante guardava o dinheiro dos "caquiados" que é o codinome usado para identificar a mistura de substâncias como lidocaína e cafeína, que são adicionadas à cocaína. Essa mistura também é comercializada pelos traficantes.

Nesta mesma conta, de acordo com relatório da Justiça Federal, duas empresas de comércio de pneus que pertencem a suspeita fizeram depósitos que somaram R$ 935 mil entre os anos de 2006 e 2007.

Em um único dia, por exemplo, uma das firmas da investigada chegou a colocar na conta do aposentado R$ 115.985. Em uma outra data, a mesma empresa fez uma transferência de R$ 73.150, de acordo com os autos.

Segundo a investigação, esses valores eram incompatíveis com os rendimentos do aposentado que declarava ter vencimentos mensais de R$ 300 na época.

De acordo com a Justiça, a PF pediu explicações sobre os depósitos. Pessoas ligadas à empresária disseram que se tratavam de empréstimos, se comprometeram em entregar documentações que comprovavam as transações mas não o fizeram.

A conta do aposentado também apresentou outras movimentações expressivas além dos depósitos das empresas. Nela, foram feitos também, por outras pessoas cujos nomes são mantidos em sigilo, dois saques de R$ 50 mil e R$ 52 mil em menos de 24 horas. Em um único dia, houve ainda um crédito de R$ 99 mil.

Essas operações também foram consideradas suspeitas pela Justiça. A situação atual do aposentado (se está preso ou responde ao inquérito) também não foi revelada pela PF.

Movimentações de R$ 11 milhões

Além dos depósitos na conta do aposentado, a Justiça obteve informações junto ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) de que a empresária movimentou em uma única conta bancária, entre janeiro de 2003 e julho de 2004, um total de R$ 8.636.419 quantia que, segundo os autos, seria incompatível com sua capacidade econômica-financeira na época.

Foi descoberto também que a empresária realizou aportes e resgates superiores a R$ 300 mil em quatro fundos de previdência privada. Em um deles, havia sido depositado cerca de R$ 1 milhão.

A Justiça foi informada ainda de que a mesma empresária realizou sete transferências no valor total de R$ 11.059.195,00 para uma firma de sua propriedade que é especializada em administração de bens.

Os valores expressivos das movimentações financeiras e o fato de depósitos terem sido feitos em uma mesma conta usada por Fernandinho Beira-Mar levaram a PF a desconfiar da empresária e iniciar a investigação.

Rio já detectou R$ 62 milhões de Beira-Mar

O esquema de lavagem de dinheiro da quadrilha de Beira-Mar também está sendo investigado pelo Núcleo de Combate à Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O trabalho foi iniciado no ano passado a partir de bilhetes que foram apreendidos durante a ocupação do Complexo do Alemão e que teriam sido escritos por Beira-Mar de dentro do presídio federal de Campo Grande (MS).

Segundo o delegado Flávio Porto, titular do Núcleo, a polícia já conseguiu identificar que contas bancárias usadas para guardar o dinheiro do traficante movimentaram cerca de R$ 62 milhões no ano passado.

Pelo menos 182 pessoas foram usadas como "laranjas" ou emprestaram suas contas para movimentar a quantia. O delegado, no entanto, não revelou em quais negócios o traficante teria investido o dinheiro sob alegação de que a investigação é sigilosa.

Uma fonte da polícia informou, no entanto, que, em uma das cartas apreendidas, Beira-Mar falaria sobre a abertura de uma clínica em Botafogo, na zona sul do Rio e de uma fábrica de tijolos, na comunidade Parque das Missões, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

O principal homem da quadrilha de Beira-Mar hoje na rua é Marcelo Leandro da Silva, o Marcelinho Niterói. Segundo policiais, ele se esconderia atualmente na favela Parque União, no Complexo da Maré, na zona norte.

Durante a Operação Fênix, a Justiça conseguiu detectar os negócios usados pelo bando de Beira-Mar para lavar o dinheiro. O traficante montou uma empresa de lava jato e uma fornecedora de gás. Também tinha até uma fazenda no Paraguai, uma lancha e um avião.

Tramita também no STJ (Superior Tribunal de Justiça), uma ação em que outras cinco pessoas tentam desbloquear suas contas bancárias. O bloqueio também ocorreu por suspeita de as contas estarem sendo movimentadas com dinheiro de Beira-Mar.

Leilão de bens

Por determinação da Justiça fluminense, bens do traficante Fernandinho Beira-Mar que foram apreendidos desde a década de 90 estão sendo leiloados.

Um deles, um apartamento no Jardim Guanabara, área nobre da Ilha do Governador, na zona norte da capital, foi arrematado no último dia 21. O imóvel estava avaliado em R$ 190 mil.

Nos últimos meses, outros bens do traficante também foram vendidos em leilões. Entre eles, um prédio comercial onde funcionava um motel, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que estava avaliado em R$ 850 mil, um apartamento na praia do Poço, em Cabedelo (PB), um terreno na praia Ponta da Campina, na mesma cidade paraibana, e uma casa no Jardim Guanabara, na Ilha do Governador.

Ainda não foi vendido um lote de terreno localizado na cidade de Colombo, no Estado do Paraná. A área tem 487 metros quadrados e foi avaliada em R$ 91.991.

Consta ainda na relação da Justiça outros bens a serem leiloados também como uma casa no bairro do Varadouro, em João Pessoa (PB), avaliada em R$ 15 mil e um apartamento em Cruz das Almas, na capital paraibana, cujo valor estipulado é de R$ 150 mil.

Beira-Mar também teve bens sequestrados por determinação da Justiça de Minas Gerais. Entre eles, dois apartamentos em Belo Horizonte, uma casa em Curitiba, uma loja e três lotes em Guarapari (ES), além de vários outros lotes em Betim (MG). As propriedades poderão ir a leilão.

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