A Brigada Militar (Polícia Militar gaúcha) usou balas de borracha e gás lacrimogêneo com validade vencida para reprimir manifestantes na noite desta segunda-feira em Porto Alegre. Encontramos um cartucho de 12 projéteis e uma granada de gás com datas de validade previstas para 2010.
Embora a embalagem afirme que o material "oferece perigo se utilizado após o prazo de validade", a PM disse, por meio de sua assessoria, que não há risco. As balas de borracha, projéteis antimotim e o gás lacrimogêneo são utilizados para dispersar grupos de desordeiros durante os protestos.
Só com a Condor Indústria Química, empresa que fornece os armamentos não letais para a Brigada Militar, o governo do Rio Grande do Sul gastou este ano R$ 149.852,43, segundo dados do Portal da Transparência. Foram três compras de R$ 49.950,81, uma em janeiro e as duas outras em abril, um mês depois do início dos protestos contra o aumento das passagens de transporte público em Porto Alegre.
A polícia já usou cartuchos de gás dos últimos lotes comprados. Outro exemplar encontrado foi fabricado em março deste ano e só vence em 2018. Conforme uma licitação do governo federal no ano passado, uma granada de gás custa em torno de R$ 190. O cartucho com 12 balas de borracha sai em torno de R$ 115.
Saques e vandalismos
Os saques e cenas de vandalismo têm surgido cada vez mais cedo nos protestos em Porto Alegre. Nesta segunda, a atuação dos policiais teve início após o saque de uma loja de calçados, quando os manifestantes começaram a brigar entre eles. O confronto com PMs continuou na região da rua Duque de Caxias, a poucas quadras do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho.
As cenas de confronto se estenderam para o bairro Cidade Baixa. Coletoras de lixo foram queimadas e usadas como barricadas no meio da rua José do Patrocínio. Estabelecimentos comerciais foram depredados. Uma agência do Itaú teve suas vidraças quebradas. Computadores e gavetas de funcionários foram revirados.
Em meio a lixo e vidros quebrados, funcionários instalavam uma porta de ferro na loja de calçados saqueada no fim da noite, no centro da capital gaúcha. Segundo a PM, pelo menos 103 foram presos.
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.